Há no universo sentimental o termo “amigo com benefícios”. Ele significa basicamente que duas pessoas próximas podem trocar, além de confidências, carícias. Nem sempre essa relação termina bem. No que tange governos e empresários, existe algo parecido. Tomadores de decisões das mais diversas áreas têm pressionado o ministro da Economia Paulo Guedes para conseguir benefícios fiscais, ainda que a defesa de um Estado liberal, como prometido pelo ministro, norteie boa parte do discurso do empresariado brasileiro.

Na prática, funciona assim: o Estado não deveria se envolver em questões de mercado, mas precisa ajudar empresas a atravessarem um momento ruim ou facilitar o caminho para o lucro. Fontes próximas ao ministro confirmaram à DINHEIRO que o telefone de Guedes não para de tocar desde que ele começou uma peregrinação em eventos com empresários. Os pedidos vêm das mais diversas áreas, mas sempre em busca de isenções ou desonerações. A alegação para o pedido de ajuda é a crise gerada pela pandemia.

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Segundo apurou a reportagem, montadoras de veículos, construtoras, varejistas e empresários da cadeia turística estão entre os mais insistentes nessas tentativas. A pessoa próxima ao ministro, que falou sob condição de anonimato, disse que a relação entre Guedes e o empresário tem sido boa, e evoluindo. “Mas não há indícios de medidas de desoneração nos planos da equipe econômica.”

Em outra iniciativa, um grupo de empresários tem buscado apoio do Congresso Nacional. Por meio de frentes parlamentares temáticas, em especial a de Comércio e Serviços, empresários do ramo de bares e restaurantes buscam formas de reerguer o segmento, um dos mais afetados pela pandemia. Dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes revelam queda de 44% no faturamento do setor em 2020, com 397 mil empregos perdidos. A estratégia, nesse caso, é pedir que os deputados avancem com pautas que melhorem a situação fiscal das empresas que estão com capacidade reduzida em função das restrições de circulação impostas por estados e municípios.

Se uma amizade com benefícios pode, no médio prazo, trazer problemas para um dos lados (ou os dois), essa afinidade pouco ortodoxa entre empresários que querem que o governo não interfira no mercado, mas ajude suas operações, tende a dar muito errado. Se você tem dúvidas é só perguntar para equipe econômica de Dilma Rousseff o que acontece dois anos depois de o governo 00desonerar toda a folha de pagamento…