Quem espera pelo elevador na sede da Qualcomm, em San Diego, California, se distrai com o imenso mural prateado que forma as paredes do hall de entrada. As versões metálicas dos certificados de patentes conseguidos pela companhia vão do teto ao chão. São, na verdade, uma vitrine para o principal ativo da empresa: a tecnologia CDMA. Fundada em 1985, a Qualcomm não foi levada muito a sério no princípio. Afinal, como uma empresa que antes fazia rastreamento de frota, poderia se meter em telefonia celular? Ainda mais com uma tecnologia que ninguém conhecia. Seus críticos devem estar arrependidos: só no primeiro trimestre, as receitas da empresa foram superiores a US$ 1 bilhão e hoje 46% dos telefones móveis dos EUA são CDMA. Enfim, duas décadas de uma vitoriosa existência.

Mas a seqüência invicta foi quebrada neste ano. A derrota
ocorreu justamente no Brasil, com a Vésper. No final de 2001, os americanos pagaram US$ 266 milhões pelo controle da empresa de telefonia fixa. A idéia era transformá-la uma operadora móvel. No ano passado, a Qualcomm pagou mais R$ 300 milhões pela freqüência 1,9 GHz. Era a senha para começar sua atuação no mercado celular. Só que ela não pode usada por estar reservada para a terceira geração. A Vésper só poderia ficar com a freqüência 1,8 GHz, que exigiria investimentos enormes. Resultado: a Qualcomm jogou a toalha e agora está à procura de compradores para a Vésper. ?O ideal seria que o comprador assumisse também a carteira de clientes?, disse a DINHEIRO Irwin Jacobs, presidente mundial e um dos fundadores da Qualcomm. E por que a Vesper deu errado? ?Houve uma seqüência de erros no começo. Quando encontramos um jeito de torná-la economicamente sustentável, a Anatel impediu. Veio então a decisão de deixar o negócio?, afirma Jacobs. Para a Vésper, a única saída é tentar usar a licença para vender roaming para outras operadoras. Mas a situação continua crítica. Na semana passada, a empresa demitiu 15% dos funcionários.

Com o fim do sonho de se tornar uma operadora celular no Brasil, a Qualcomm enterra de vez uma era de agressiva diversificação. A empresa chegou a fabricar aparelhos para criar a primeira base de usuários da sua tecnologia. Em 2000, as fábricas foram vendidas para a japonesa Kyocera. A produção de equipamentos de infra-estrutura, como antenas e centrais telefônicas, também já não faz mais parte do negócio. Foi parar nas mãos da Ericsson em 1999. ?Não queríamos e não vamos competir com nossos clientes?, explica Paul Jacobs, vice-presidente da empresa e filho de Irwin. Agora, a empresa volta às origens, atuando no que mais sabe fazer: chips para celulares e cobrando royalties do uso de sua tecnologia CDMA. A companhia americana, aliás, está trabalhando duro para aumentar a participação destes royalties em seus resultados. Atualmente, eles respondem por cerca de US$ 850 milhões, ou 26% do faturamento mundial.

Uma das ferramentas para elevar as receitas com licenças é a recente tecnologia do roaming global. A empresa é dona da patente sobre o chip que permite a um telefone celular funcionar em todo o mundo. Novamente, todos os fabricantes de aparelhos terão de pagar à Qualcomm para ter acesso ao chip. Outra novidade é o Brew. Trata-se de uma plataforma de software que permite a criação de novos usos para o celular, como jogos em rede, áudio e vídeo de alta definição. ?O serviço de voz se tornou uma commodity. Esse mercado só vai crescer se o aparelho tiver outras utilidades?, diz Marco Aurélio Rodrigues, presidente da Qualcomm no País. A Vivo já oferece vários serviços baseados no Brew, como jogos e guia de cinema. ?Ela é mais veloz que o sistema usado pela concorrência?, diz Roger Rafolds, diretor da Vivo. A Vésper não derrubou a Qualcomm no Brasil.