Na sexta-feira (28) o índice Bovespa encerrou os negócios a 125.561 pontos, batendo um novo recorde histórico. Mesmo assim, o desempenho do principal indicador do mercado acionário brasileiros está longe de ser brilhante. Na ponta do lápis, a alta acumulada do Ibovespa no ano é 5,5%. E há espaço para novas altas, ainda neste ano.

A principal causa é a concentração da alta de 2021 em ações de poucos setores. Mais especificamente, os papéis ligados às commodities minerais, como Vale e as siderúrgicas. As cotações internacionais do minério de ferro vêm batendo sucessivos recordes, o que turbinou essas ações. Devido à natureza dinâmica do Ibovespa, em que as ações mais negociadas vão ganhando participação gradativa no índice, o peso da Vale e de sua alta são crescentes.

No entanto, essa valorização não se dissemina de maneira uniforme pelo mercado. Por isso, apesar do recorde do Ibovespa, há setores e ações de primeira qualidade muito baratos no pregão.

Um dos melhores exemplos é o setor bancário. Nos últimos tempos, os papéis de bancos, em especial os grandes do varejo, vêm sofrendo com uma desconfiança justificada dos investidores. Na visão de boa parte do mercado, essas instituições financeiras estão sendo atacadas por todos os lados. As fintechs e os bancos digitais querem capturar partes importantes de seus serviços. E o Banco Central (BC), por meio de iniciativas como Pix e Open Banking, está forçando um aumento da concorrência e uma redução das margens.

Tudo isso é verdade. Porém, os grandes bancos têm porte, caixa e capacidade de recuperação. São familiarizados com investimentos em tecnologia. E conhecem como ninguém seus clientes. Por isso, não é hora de dizer que os gigantes de varejo são dinossauros a caminho da extinção. Desde o início do ano, suas ações recuaram, em média, 5,4%. Ou seja, esse setor, que representa mais de 23% do Ibovespa, está muito atrasado em relação à média do mercado. Só ao zerar a diferença, ele pode representar mais 5 mil pontos de alta no índice.

O segundo setor na mesma situação é do varejo. É um setor importante, que representa 11% do Ibovespa e cuja queda acumulada no ano é de 3,6%. Aqui não há desconfiança, há pandemia. O setor foi duramente prejudicado pelas medidas de restrição, que atingiram em cheio a presença de clientes nas lojas. A migração de boa parte das vendas para o comércio eletrônico não foi capaz de compensar integralmente o impacto do isolamento social.

Considerando-se apenas que esses dois setores alinhem seu desempenho com o da média do mercado é possível esperar novos recordes sustentados do Ibovespa. Claro que o caminho não será suave e nem isento de sustos. Ao contrário, o imprevisível cenário político pode fazer o governo perder aderência às reformas, tão amadas pelos investidores, e derrubar as cotações. No entanto, há boas oportunidades para o investidor com paciência para pesquisar, paciência para esperar e apetite para arriscar.