Quem não se entusiasmaria em investir em um fundo de ações administrado por um profissional disputado a peso de ouro no mercado cujo, maior desafio é analisar aplicações e buscar as mais rentáveis? É justamente pensando assim que mais da metade dos investidores brasileiros aplica em fundos ativos, que são geridos por um analista sem ganhos indexados. Quem investe neles paga mais ? a taxa de administração anual chega a ser o dobro de um passivo ?, querendo também ganhar mais. Deveria ser assim, mas nem sempre é. Pelo menos é isso que mostra um estudo feito pela Souza Barros, corretora de valores paulista, que observou o desempenho de 175 fundos negociados no Brasil. A conclusão foi que, nos últimos três anos, mais de 70% dos fundos ativos renderam menos que o Ibovespa, índice que mede a valorização das ações na Bolsa de Valores de São Paulo. Até os que aparecem com os melhores resultados ficaram atrás, como o BCN Alliance Superação Telecom (34,73% de rentabilidade no período) e Banco do Nordeste-Ações (34,56%). Enquanto isso, o Ibovespa acumula variação de 45,81% (confira quadro). ?Na comparação dos últimos 12 meses, a diferença é ainda maior?, conta Álvaro de Souza Barros, coordenador da pesquisa.

Vantagem. Depois de analisar números como esses, a pergunta é: vale mesmo a pena investir em fundos ativos? Afinal, eles custam mais e o resultado nem parece tão vantajoso assim. Mas antes de chegar a alguma conclusão, é preciso refletir sobre alguns pontos. Primeiro, o próprio momento do mercado de ações. ?Esses três anos coincidem com uma fase complicada na Bolsa?, diz Rosângela Rodrigues, da corretora CoinValores. O Ibovespa fechou com queda de 33,4% em 98, teve alta de 151,9% em 99 e até outubro deste ano, acumula queda de 18,5%. Por mais competente que seja, é difícil para o gestor de fundos conseguir um bom resultado com tanto vaivém. Depois, existem questões ainda mais pontuais. No ano passado, ocorreu, por exemplo, o que o mercado chamou de efeito Light Par. Essa ação do governo tinha liquidez zero e por isso estava fora da carteira da grande maioria dos fundos. Só que depois que a empresa conseguiu reduzir em 79,5% seu prejuízo, o papel teve alta fenomenal. O impacto no Ibovespa foi grande (o que ajuda a explicar a alta de 99) e quem estava fora, ou seja, quase todos os fundos, acabou perdendo.

Só depois de analisar tudo isso é possível saber até que ponto sua escolha é ou não um bom negócio. ?Um fundo ativo vale a pena sim para quem tem algum conhecimento do mercado e preocupações de longo prazo?, explica Júlio Ziegelmann, diretor de renda variável do BankBoston Asset Management. E quando ele fala em longo prazo não imagine nada em menos de cinco ou dez anos. Ziegelmann, assim como a maioria dos analistas financeiros, acredita que essas perdas acabam sendo recuperadas com mais facilidade se existe um profissional especializado no comando. E esse é um grande diferencial: a flexibilidade que o gestor tem de buscar mesmo as melhores aplicações. Já um fundo passivo é indicado para quem tem menos paciência e menos disposição às incertezas. Esses têm sempre resultados referenciados a algum índice, que tanto pode ser o índice da Bolsa de Valores de São Paulo como o das companhias energéticas, por exemplo. Mas atenção: nem todos são 100% indexados. Alguns reduzem esse percentual para 80% ou 70%, isso sem contar com o desconto da taxa de administração (que é de cerca de 2% ao ano).

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre esse modelo. E a razão é simples: existem menos de 40 fundos passivos no Brasil, contra mais de 140 ativos. A maioria existe há menos de cinco anos e nem todos os analistas têm interesse em divulgar esse formato. ?Com aplicações assim não existe ganho proveniente do giro de carteira?, afirma Eduardo Fonseca, da Souza Barros. ?Se a rentabilidade não estiver indexada, o gestor ganha com a taxa de administração e também na corretagem.? A questão é saber se o seu lucro vai mesmo compensar tudo isso. Inclusive os altos e baixos.