Em nome de evitar um confronto bélico direto, o presidente americano Joe Biden resiste a encarar a Rússia na Ucrânia, mas a decisão alimenta uma guerra política nos Estados Unidos — e colocando em risco a maioria Democrata nas eleições do Congresso em novembro. Na mais recente pesquisa Reuters/Ipsos, no fim de março, o índice de aprovação de Biden caiu para 40%, o nível mais baixo de seu governo. As principais reclamações dos eleitores são a alta inflação e a postura dele em relação à política externa, com a saída do Afeganistão e a passividade na Ucrânia.

O governo Biden, na avaliação da cientista política Virginia Sapiro, da Universidade de Boston, foi corroído pelo ressurgimento de problemas com a pandemia e com uma ameaça de guerra de grandes proporções. “Os eleitores esperam respostas mais rápidas de Biden, que herdou problemas gigantescos de antes e criou novas dificuldades ao não conseguir cumprir promessas econômicas e algumas ameaças vazias na questão da guerra”, afirmou a pesquisadora à DINHEIRO.

IMAGEM ARRANHADA Posição de Biden diante da invasão russa à Ucrânia começa a deteriorar avaliação do governo e seus efeitos são sentidos na popularidade do presidente. (Crédito: Wolfgang Schwan)

A aprovação do presidente americano, no início do segundo ano de administração, já é equivalente ao de seu antecessor, Donald Trump, comparando-se ambos na mesma altura do mandato. Mas Trump ficou ainda abaixo. Na mínima, em dezembro de 2017, a aprovação de Trump atingiu apenas 33%. O cientista político Bill Galston, do The Brookings Institution, afirmou que “Biden terá de mudar a forma como conduziu o País até agora, porque a insatisfação está crescendo mesmo entre seus pares de partido.”

O fogo-amigo que Biden enfrenta entre eleitores e congressistas compromete o futuro da política americana sob a atual gestão. Os democratas possuem maiorias mínimas na Câmara e no Senado. A perda de qualquer uma delas pode paralisar a agenda legislativa de Biden. Na Câmara, os democratas têm 222 dos 435 representantes. No Senado, das 100 cadeiras, 52 são de democratas. Para o economista e coordenador de Relações Internacionais da Fundação Dom Cabral (FDC), Carlos Braga, a impopularidade de Biden dentro e fora da esfera política vai crescer enquanto o ambiente econômico estiver incerto. “O eleitor médio americano gosta de gasolina barata e de guerra. Biden tem sido mal avaliado em ambas os aspectos”, afirmou. “Se evitar conflito armado e contrlar a inflação era o objetivo, Biden está falhando.”