Vigiados por militares armados com Kalashnikovs e recompensados com bilhetes de loteria, os habitantes dos territórios separatistas pró-russos do leste da Ucrânia votaram neste domingo (11) em eleições locais consideradas “ilegítimas” por Kiev e por países ocidentais.

Nestas eleições, serão eleitos “presidentes” e “deputados” para as duas “repúblicas populares” autoproclamadas pelos rebeldes em Donetsk (DNR) e em Lugansk (LNR). Há quatro anos, ambas escapam ao poder de Kiev.

A votação vai fixar a separação desses territórios do restante do país e legitimará seus novos dirigentes, no momento em que o processo de paz se encontra em ponto morto e os confrontos continuam aumentando o balanço desse conflito. De acordo com a ONU, são pelo menos 10.000 mortos.

No centro de Donetsk, uma das “capitais” separatistas, mais de dez militares encapuzados e armados com fuzis Kalachnikov vigiavam os postos eleitorais, onde votaria Denis Pushilin, chefe interino da DNR após o assassinato de seu antecessor.

Valentina Slipenko, uma aposentada de 77 anos, votou em Pushilin, “pois vai preservar a orientação pró-russa”.

– Metralhadoras russas –

O anúncio das eleições deflagrou indignados protestos de Kiev e dos ocidentais, que veem nelas a ingerência de Moscou.

“Estão organizadas sob as metralhadoras russas em um território ocupado” pela Rússia, disse no sábado à noite o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko.

Ontem, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, denunciou eleições “ilegais e ilegítimas” e assegurou que não serão “reconhecidas” pelos 28.

“Estas eleições são uma piada”, acrescentou o enviado especial americano na Ucrânia, Kurt Volker.

Oito países europeus — Alemanha, Bélgica, França, Grã-Bretanha, Itália, Holanda, Polônia e Suécia — pediram à Rússia que usasse sua “influência” para impedir a realização das eleições.

Moscou garante que essas eleições “não têm qualquer relação” com os acordos de paz de Minsk.

“As pessoas simplesmente precisam viver (…) e assegurar a ordem em sua região”, afirmou em 1º de novembro a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, mencionando ainda a “necessidade de preencher o vazio de poder”.

As duas repúblicas autoproclamadas são dirigidas há meses por chefes interinos que podem ver sua autoridade referendada pelos votos.

Em Donetsk, Denis Pushilin, de 37 anos, um ex-negociador político com Kiev, foi nomeado para suceder a Alexander Zakharchenko, ex-combatente falecido em agosto em um atentado.

Em Lugansk, Leonid Pasechink, de 48 anos, ex-autoridade regional dos serviços de segurança ucranianos, substituiu Igor Plotnitski, destituído em novembro de 2017.

Em ambas as repúblicas autoproclamadas, vários candidatos se apresentaram, mas ninguém duvida da vitória das lideranças atuais, que prometeram reforçar os vínculos com Moscou.

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