Faltam três meses para o início da campanha eleitoral, mas os sites de financiamento coletivo (crowdsourcing, do termo em inglês) já saíram à captura de partidos políticos e potenciais candidatos. No início de maio, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou a lista das primeiras plataformas digitais aprovadas para atuar como intermediárias na arrecadação das doações de pessoas físicas. O número de empresas interessadas registradas na Justiça Eleitoral surpreendeu a todos. Até quarta-feira 9, eram 39 inscritas, sendo que dez estavam aprovadas. São sites como Voto Legal, Eu Apoio, Vakinha e Eleitor Presente. Eles disputam a preferência de quase 40 mil políticos, número estimado para as eleições de 2018.

Esses sites devem ganhar a atenção por conta das mudanças na forma de captação de recursos para a eleição de 2018, que impede doações de empresas. Com isso, além do fundo público eleitoral, de R$ 1,71 bilhão, os partidos terão de convencer o eleitor a financiar o seu candidato. É nesse momento que os sites de financiamento coletivo ganham relevância. Eles devem usar estratégias diferenciadas para conquistar os pré-candidatos, como o preço cobrado, principalmente da comissão, recursos tecnológicos para evitar fraudes e, em alguns casos, até assumir os riscos financeiros.

A partir da segunda-feira, 15 de maio, as empresas cadastradas estão autorizadas a arrecadar recursos. Apesar disso, o repasse do dinheiro só pode ser realizado após o registro da candidatura e a abertura de conta bancária específica para movimentação financeira da campanha. Em 2016, essa modalidade de arrecadação existia, mas ela só poderia ser feita no período da campanha. Quem sai na frente é o site Voto Legal, que diz que já foi procurado por 800 políticos. Na eleição de 2016, eles trabalharam com 27 partidos e 130 candidatos. “Hoje estamos negociando com quatro presidenciáveis”, diz Thiago Rondon, CEO da startup AppCívico, empresa responsável pela operação.

Voto legal: Thiago Rondon, CEO do Appcívico, já foi procurado por 800 políticos e negocia com quatro pré-candidatos à presidência (Crédito:Divulgação)

A DINHEIRO apurou que um desses presidenciáveis é Marina Silva, pré-candidata à presidente pela Rede Sustentabilidade. O partido da ex-senadora já teria fechado parceria com o Voto Legal. A conquista de Marina Silva é considerada importante, pois analistas consideram que ela é uma das que tem mais chance de bater o recorde de arrecadação do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Quando concorreu a prefeitura do Rio de Janeiro, em 2016, ele obteve R$ 1 milhão em financiamento coletivo.

Apesar do alto número de sites de financiamento registrados no TSE, a expectativa é que a briga fique entre poucas empresas. “Poucas plataformas devem concentrar a maior parte das campanhas”, diz Felipe Caruso, consultor especializado em financiamento coletivo. Uma das empresas que deve atrair a atenção dos políticos é o Vakinha, que criou o site Doação Legal. “Temos 80 pré-candidatos fechados, mas esperamos chegar a 1,5 mil políticos”, diz Luciano Antunes, CEO do Okpago, responsável pelo Vakinha e pelo Doação Legal. Eles já conquistaram os deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Celso Russomano (PRB-SP), que vão buscar a reeleição, e do vereador Mario Covas Neto (Podemos-SP), que vai tentar uma vaga para o Senado. O Vakinha negocia também com dois presidenciáveis: Álvaro Dias (Podemos) e Ciro Gomes (PDT).

Para evitar fraudes, algumas plataformas de financiamento coletivo prometem usar tecnologias de inteligência artificial, reconhecimento facial e até pagamento com a tecnologia Blockchain para evitar golpes virtuais. O site Eu Apoio, ao contrário dos demais, vai assumir o custo, caso algo aconteça. “Vamos cobrar uma comissão de 10%, mas iremos assumir o risco de prejuízos”, afirma André Tomazetti, fundador do Eu Apoio. Ele dá o exemplo da fraude branca, que ocorre quando o doador contribui usando cartão de crédito e pede o estorno depois da campanha terminar. No Brasil, o prazo para cancelar o pagamento é de 365 dias.

Não há estimativas de quanto será arrecadado por meio de sites de financiamento coletivo. Em 2016, segundo levantamento do TSE, os quase 500 mil candidatos a prefeito e vereadores receberam R$ 2,5 bilhões em doações. Mas pouco desses recursos chegaram por meio de plataforma de crowdsourcing. O caso político mais emblemático é o do ex-presidente Barack Obama, que arrecadou US$ 300 milhões de 600 mil doadores individuais, quando concorreu pela primeira vez à presidência dos Estados Unidos, em 2008. É improvável que alguém consiga repetir o desempenho de Obama por aqui. Mas a disputa para pegar os políticos no laço, ou melhor, no mouse, está aberta.