Donald Trump conquistou a Presidência com a promessa de pôr fim às “guerras sem fim” dos Estados Unidos e adotar uma nova abordagem para a atuação dos Estados Unidos no plano internacional.

De olho na reeleição de 2020, Trump, que se gaba de confiar em seus “instintos”, continua em busca de um grande êxito diplomático para ostentar.

– Síria –

Em menos de um ano, Trump tentou duas vezes – em dezembro passado e esta semana – retirar as tropas americanas da Síria.

Em ambas as oportunidades, o anúncio nessa direção aconteceu após uma conversa por telefone com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Seu homólogo espera ter o campo liberado para atacar os curdos, os quais considera terroristas, mas que têm sido um importante sócio de Washington contra o grupo Estado Islâmico (EI).

Nestes dois episódios, Trump teve de recuar diante das fortes críticas de seus próprios correligionários.

Segundo a cúpula republicana, com esta medida, os EUA vão abandonar aliados, promover um possível ressurgimento do EI e fortalecer Rússia e Irã. Moscou e Teerã têm sido dois grandes suportes do presidente sírio, Bashar al-Assad.

– Afeganistão –

Em relação ao Afeganistão, Trump disse que acabará com a guerra mais longa dos Estados Unidos e que vai retirar as tropas enviadas para lá após os atentados em 11 de setembro de 2001.

Há um mês, deu o audacioso passo de convidar os líderes dos talibãs, cujo antigo regime extremista acolheu a rede Al-Qaeda, para negociações em Camp David.

Abruptamente, suspendeu o diálogo. Atribuiu seu recuo ao assassinato de um soldado americano por parte dos talibãs, que intensificaram sua violência, ao mesmo tempo em que negociavam com Washington.

– Irã –

Trump escondeu seu desejo de conversar com o Irã, arqui-inimigo dos EUA.

Depois de abandonar o acordo nuclear firmado por Barack Obama e de reimpor unilateralmente sanções econômicas à República Islâmica, ele disse acreditar que conseguiria convencer Teerã a negociar um “novo acordo”.

Em paralelo à última Assembleia Geral da ONU, a França chegou a instalar uma linha de telefone segura para que Trump falasse com o presidente iraniano, Hassan Rohani.

Quando Trump ligou, ninguém atendeu. Segundo diplomatas, Rohani exige a suspensão total das sanções antes de conversar.

– Coreia do Norte –

Adepto dos apertos de mão “históricos”, Trump aceitou se reunir com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, com quem já havia trocado acusações e ameaças.

Desde junho de 2018, encontrou-se três vezes com Kim. Embora o tenha descrito como um “amigo”, há, contudo, poucos sinais de um acordo permanente que vá frear as ambições nucleares de Pyongyang.

A Coreia do Norte continuou a fazer seus testes de mísseis e as conversas de trabalho com os Estados Unidos terminaram asperamente no fim de semana passado na Suécia. Washington considerou, contudo, que foi uma “boa discussão” e propôs um novo encontro em duas semanas. Pyongyang rejeitou.

– Venezuela –

Desde janeiro, os Estados Unidos lideram a pressão internacional para forçar a saída do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. A ofensiva da Casa Branca inclui uma bateria de sanções, entre elas um embargo ao petróleo da Venezuela, commodity crucial para a economia sul-americana, e o reconhecimento do líder opositor e líder parlamentar Juan Guaidó como presidente interino. Uma intervenção armada ainda não foi descartada.

Nada disso levou à mudança de regime, e Maduro continua no poder, contando com o apoio de seus militares, assim como de China, Rússia e Cuba.

– China –

Trump também tenta chegar a um acordo com a China, após uma escalada nas tensões comerciais, que inclui a aplicação recíproca de tarifas bilionárias.

Meses de discussões bilaterais continuam sem resultado. Recentemente, Trump afirmou que não considera necessário assinar nada com a China antes das eleições de 2020. A esta altura, o único resultado é uma ameaça real ao crescimento econômico mundial.

– Rússia –

Outra grande promessa de campanha de Trump – a reconciliação com a Rússia de Vladimir Putin – tampouco se concretizou, obstaculizada pelas acusações de ingerência russa na campanha presidencial americana de 2016 e pela declarada hostilidade de Moscou em relação a figuras republicanas.