Policiais que encapuzaram e mantiveram um homem negro morto com a face para baixo durante sua prisão em março em Rochester, Nova York, não serão acusados de sua morte, anunciou a procuradora-geral Letitia James nesta terça-feira (23).

James não escondeu seu pesar ao dar a notícia de que um grande júri concluiu que não havia evidências suficientes para acusar os envolvidos na morte de Daniel Prude, de 41 anos, que estava sofrendo de um surto psicótico quando foi preso.

“Daniel Prude estava passando por uma crise de saúde mental e o que ele precisava era de compaixão, cuidado e ajuda de profissionais treinados. Tragicamente, ele não recebeu nenhuma dessas coisas”, lamentou James em um comunicado.

A morte de Prude “poderia ter sido evitada”, afirmou James mais tarde em uma entrevista coletiva.

A procuradora-geral sustentou que as leis atuais sobre o uso de força letal “criaram um sistema que falhou total e miseravelmente com Prude e tantos outros antes dele”.

“São necessárias reformas sérias, não apenas no Departamento de polícia de Rochester, mas em nosso sistema de justiça criminal como um todo”, criticou James, que é negra.

A procuradora-geral disse que ainda existem “sérias preocupações” sobre a conduta da polícia de Rochester e emitiu uma série de recomendações, principalmente sobre como a polícia deve lidar com uma crise de saúde mental.

O chefe da polícia de Rochester renunciou em setembro, após dias de protestos após a morte de Prude.

Tudo começou no dia 23 de março, quando o irmão da vítima chamou a polícia para ajudar Prude, que sofria uma crise psicótica e saiu pelado pelas ruas nevadas ao amanhecer.

O vídeo obtido pela família em setembro, filmado por câmeras colocadas nas roupas dos policiais, mostra Daniel Prude nu e desarmado.

A polícia ordenou que Prude deitasse no chão e, ao obedecer, ele foi algemado. Logo em seguida, porém, ele ficou agitado. Os policiais então colocaram um capuz nele para evitar cuspes e mordidas e forçaram Prude a manter a cabeça virada para baixo por dois minutos.

Prude perdeu a consciência. A polícia tentou ressuscitá-lo, mas não teve sucesso e o transferiu para o hospital, onde ele morreu uma semana depois, quando as máquinas que o mantinham vivo foram desligadas.

A polícia de Rochester também foi questionada depois de algemar e usar spray de pimenta contra uma menina de nove anos em janeiro, em meio a uma onda de indignação com os métodos usados pelas forças de segurança dos Estados Unidos.

A morte, em maio de 2020, em Minneapolis, de George Floyd, um afro-americano, depois que um policial branco se ajoelhou em seu pescoço por mais de oito minutos, gerou protestos nacionais multitudinários convocados pelo movimento ‘Black Lives Matter’ (Vidas negras importam) contra o racismo e a brutalidade policial.