Se eleita presidente no domingo 3, como sugerem as pesquisas de intenção de voto, a candidata petista Dilma Rousseff terá uma base de apoio muito maior do que a dos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com maioria folgada no Congresso e uma ampla base de apoio entre os novos governadores. Os partidos aliados podem eleger entre 255 e 360 deputados – de um total de 513 – e 39 a 55 senadores , – de um total de 81. A base aliada deve eleger ainda 17 governadores, enquanto a oposição caminha para fazer menos da metade desse número. O governador Sérgio Cabral, com chances de ser reeleito no primeiro turno, é apenas um dos cinco governadores do PMDB. Outros cinco devem ser eleitos pelo PT. 

 

Com tamanha base de apoio, Dilma Rousseff poderia promover grandes transformações econômicas e mudanças constitucionais no País. Mas, pelo menos até agora, não há indicações de que ela vá gastar valioso capital político com reformas com as quais nem chegou a se comprometer – o que, diga-se de passagem, seus rivais José Serra e Marina Silva também não fizeram. 

 

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Um por todos, todos por um: na terça-feira 21, Dilma, líder na sucessão presidencial, esteve com Lindberg Farias, 
que deve se eleger para o Senado, e Sérgio Cabral, virtual governador do Rio de Janeiro

 

“O tamanho da bancada governista indica uma janela de oportunidade. A questão é saber se ela tem a pretensão de fazer uma agenda reformista ambiciosa”, diz o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências. Ou seja, a chance existe, mas pode ser desperdiçada.

 

Nas poucas vezes em que falou sobre planos de governo, numa campanha dominada por troca de acusações, Dilma elegeu suas prioridades. “Eu não acho que a questão da Previdência seja a mais importante para o País no próximo período. O mais importante são as reformas tributária e política”, afirmou. 

 

Dilma classificou a estrutura tributária no Brasil de caótica. O curioso é que seu principal colaborador, Antônio Palocci, elaborou um projeto de reforma que propõe a troca do ICMS pelo IVA. “A ideia dela é muito restrita. É basicamente desoneração de investimentos e apoio à exportação. Não acaba com a guerra fiscal”, diz Cortez. Quanto à reforma política, Dilma já disse que vai se esforçar para tirá-la do papel. 

 

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José Serra, do PSDB: sua bancada seria bem inferior à de Dilma, 
mas ele poderia atrair partidos como o PMDB

 

O PT que sairá das urnas no domingo 3 terá a maior bancada da Câmara dos Deputados, com uma representação entre 85 e 110 deputados, segundo projeções. No Senado, o PT pode conquistar de 12 a 16 cadeiras, passando de quarta para a segunda maior bancada. Juntos, os dez partidos da base aliada ao PT no Congresso podem ter até 360 deputados e 55 senadores, o suficiente para conseguir maioria qualificada na Câmara e no Senado.

  

O PT deve eleger ainda os governadores do Rio Grande do Sul, Acre, Bahia, Sergipe e Distrito Federal. O PMDB deve vencer no Rio de Janeiro, em Mato Grosso do Sul, Paraíba, no Maranhão e em Mato Grosso. Os aliados PSB, PP e PTB devem eleger outros seis governadores. 

 

Mas base de apoio não é sinônimo de conforto no exercício do cargo. Os parlamentares votam de acordo com a orientação partidária, mas também têm que atender aos interesses regionais e setoriais. No ano passado, por exemplo, a disputa pelos royalties do pré-sal colocou em lados opostos o presidente Lula e aliados como o governador do Rio, Sérgio Cabral, e do Espírito Santo, Paulo Hartung. 

 

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Marina Silva, do PV: para garantir a governabilidade, a candidata promete chamar 
“os melhores”, incluindo os do PT e PSDB

 

O cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, de São Paulo, acha que a bancada fortalecida não deixa Dilma livre dos conflitos decorrentes da busca por espaços de influência. “Haverá disputas dentro da aliança, entre o PT e o PMDB, e tudo terá de ser negociado. Dilma não deve contar com um rolo compressor”, disse.

 

A coligação que apoia José Serra, com seis partidos, também não sai das urnas com uma bancada desprezível. Deve eleger entre 125 e 173 deputados e de 26 a 32 senadores. Não é suficiente para aprovar projetos sem apoio da oposição, mas, a julgar por outras eleições, a oposição nunca é maioria por muito tempo. 

 

A candidata do PV, Marina Silva, já disse que, se eleita, chamaria representantes de todos os partidos para compor seu governo. “Vamos chamar os melhores de todos os partidos”, disse. Ela vai precisar. O Partido Verde, que não fez coligação, deve ocupar de 10 a 15 vagas na Câmara e uma no Senado.

 

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A experiência das eleições anteriores mostra que o partido que ganha no Executivo sempre consegue engordar sua base no Legislativo.  “Deputados na oposição não têm acesso a recursos do Orçamento para levar melhorias para seus municípios”, explica Almeida. Da mesma maneira que o presidente precisa de votos do Congresso, os parlamentares precisam da caneta presidencial.