Uma nuvem de pó do deserto do Saara, que cobre a ilha caribenha de Porto Rico desde o domingo, começou a afetar o sul da Flórida nesta quarta-feira (24) e deve encobrir até a próxima sexta a ilha de Cuba, onde provocou um recorde de calor, alertaram autoridades americanas e cubanas.

Em Miami, a qualidade do ar é considerada atualmente como “moderada”, informaram o escritório de gestão de recursos ambientais e a secretaria de Saúde da cidade, que pediu às pessoas com problemas respiratórios que permaneçam em casa.

Isto ocorre porque “o nível de material particulado indica a presença de pó saariano no condado de Miami-Dade, que pode durar até a próxima semana”, indicou um comunicado.

Impulsionado por ventos fortes, o pó do Saara viaja através do Oceano Atlântico do oeste da África durante a primavera no hemisfério norte.

Nesta ocasião, a massa de ar seca e poeirenta percorreu 8.000 km até o Caribe e começou a encobrir desde o domingo San Juan, capital de Porto Rico, que parecia envolta em uma camada de neblina.

Agora, um sistema de alta pressão empurra o pó saariano até a costa do Golfo da Flórida.

Na segunda, a qualidade do ar no mar do Caribe tinha chegado ao nível “perigoso”.

As autoridades sanitárias recomendam às pessoas asmáticas, alérgicas e com problemas respiratórios que evitem sair de casa.

As pessoas saudáveis também podem ter reações inflamatórias, se sentir letárgicas ou apresentar sintomas de sinusite, congestão nasal ou problemas para respirar.

– ‘Fog’ cubano –

Em Cuba, a grande nuvem de pó que encobrirá a ilha até a próxima sexta, ofuscou o costumeiro céu azul e elevou as temperaturas a 37,4º C na província de Guantánamo (leste), perto da base militar americana, um recorde para esta época do ano, segundo o Instituto de Meteorologia.

A espessa nuvem, que encobriu outras regiões do Caribe, se estende a várias regiões da ilha, mas eme Havana será mais evidente na quinta e na sexta-feira, segundo especialistas, que alertam para a ocorrência de problemas respiratórios em um momento em que o país controla a pandemia do novo coronavírus.

O fenômeno produz uma massa de ar quente e seca e, embora eleve os termômetros, neutraliza a formação de ciclones tropicais. Isso provoca sensação de “muito calor” e “diminuição das chuvas”, explicou pelo Facebook o meteorologista cubano José Rubiera.

Provocadas por tempestades de areia e pó do Saara, estas nuvens viajam para esta parte do mundo empurradas pelos ventos e são um fenômeno comum nesta época do ano, mas desta vez a concentração de pó está “muito acima dos níveis normais”, acrescentou.

Isto “provoca uma deterioração considerável da qualidade do ar”, explicou o cientista cubano Eugenio Mojena.

Segundo Mojena, especialista na área, estas nuvens são carregadas de materiais “altamente nocivos para a saúde humana” e “os diferentes ecossistemas marinhos e terrestres”.

Contêm “minerais como ferro, cálcio, fósforo, silício e mercúrio, além de vírus, bactérias, fungos, ácaros patogênicos, estafilococos e contaminantes orgânicos”, detalhou.

O chefe de Epidemiologia do Ministério da Saúde Pública, Francisco Durán, descartou qualquer relação entre a nuvem de pó e o novo coronavírus, mas destacou que ela “pode aumentar problemas respiratórios e alérgicos”.

A ilha de 11,2 milhões de habitantes reportou nesta quarta um único caso do novo coronavírus e acumula um total de 2.318, com 85 mortos e 2.130 pessoas curadas.

Cuba iniciou na quinta-feira passada a primeira de suas três fases de desconfinamento, após considerar controlada a pandemia. Havana, sua capital, é a única região do país onde são mantidas as restrições porque continua registrando contágios.