Se não houvesse um motivo mais prático, o novo livro do professor Paulo Nogueira Batista Júnior poderia ser lido por prazer. O autor de A Economia Como Ela É… ? uma coletânea de artigos, ensaios e conferências em torno das mazelas recentes da economia pátria ? é um dos raros economistas brasileiros que escrevem com elegância, verve e corrosivo senso de humor. Seu texto de colunista semanal da Folha de S. Paulo é um dos mais límpidos da imprensa brasileira, e o livro não fica atrás. Há, porém, razões mais graves para ler as peças indignadas do ex-assessor de Dílson Funaro. A principal delas é que o professor Paulo Nogueira, conhecido entre os jornalistas pela sigla PNB, representa uma minoria profissional que repudia o consenso neoliberal instalado no Brasil. As idéias que ele expõe nas 432 páginas do livro são diferentes de tudo que se costuma ouvir nos elevadores de Brasília e da Avenida Paulista. Ele é nacionalista, desconfia da globalização, defende a função do Estado na economia e repudia o carnaval de liberdades financeiras instalado pelo governo Fernando Henrique. Se não fosse um sujeito culto e articulado passaria por excêntrico. Tal como é, estranhos parecem em seus textos os burocratas que dirigem o Brasil instalados mentalmente à beira do Potomac.

 

O pano de fundo para os arrazoados de Paulo Nogueira é o malogro da abertura liberal. ?Iniciamos a década de 90 sob a promessa de que um amplo programa de abertura e liberalização da economia nos traria extraordinário progresso?, escreve. ?Dez anos depois, o que temos? Conseguimos a proeza de registrar uma taxa média de crescimento econômico inferior a 2%, menor do que tivemos na famosa ?década perdida? dos 80?. O fato de que essa constatação escape à percepção da mídia e da maioria dos economistas faz com que PNB reclame do isolamento intelectual dos últimos anos. Um isolamento que, segundo ele, começam ser rompido pela percepção crescentemente crítica da ação do governo e da ideologia liberal que o orienta. Tomara. Nelson Rodrigues, um dos heróis do autor e sua fonte de inspiração mais permanente, disse uma vez que toda unanimidade é burra. A unanimidade neoliberal é pior, por perversa.