O Prêmio Nobel da Paz 2020 foi atribuído nesta sexta-feira (9) ao Programa Mundial de Alimentos (PMA) pelo seu esforço para combater a fome no mundo, especialmente no Iêmen, país em guerra onde milhões de pessoas estão à beira da fome.

O braço alimentício da ONU, o PMA, fornece alimentos todos os meses para milhões de pessoas no Iêmen, o país mais pobre da península Arábica, onde o governo enfrenta uma guerra devastadora contra insurgentes huthis desde 2014.

– A maior operação de emergência –

Com o objetivo de alimentar 13 milhões de pessoas por mês, entre elas 1,1 milhão de mulheres e crianças menores de cinco anos, a operação do PMA no Iêmen é considerada a maior resposta de emergência do mundo.

Este país, com cerca de 29 milhões de habitantes, enfrenta a pior crise humanitária do planeta, de acordo com a ONU.

Junto com outras ONGs de ajuda internacional, eles soam frequentemente o alarme sobre as desastrosas consequências deste conflito, que provocou dezenas de milhares de mortes desde a intervenção em 2015 de uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, em apoio ao governo no combate aos rebeldes huthis xiitas, próximos ao Irã.

Mais de 20 milhões de iemenitas estão em situação de insegurança alimentar, segundo o PMA.

O futuro parece ainda mais sombrio para este país por causa da pandemia de covid-19.

– Operações –

O PMA distribui alimentos todos os meses diretamente ou através de cupons.

Cada família de pelo menos seis pessoas recebe uma cesta mensal com farinha de trigo, leguminosas secas, azeite vegetal, açúcar e sal.

A organização também doa dinheiro em regiões onde os moradores podem obter os alimentos básicos em lojas, por um valor equivalente a 12 dólares por pessoa ao mês.

Além disso, o PMA fornece lanches diários –barras de tâmaras ou biscoitos energéticos– para cerca de 950.000 estudantes.

Sem esquecer da ajuda alimentar para cerca de 8.500 refugiados do Chifre da África, abrigados mo acampamento de Jaraz, na província de Lahj (sul).

– Necessidade de uma ajuda financeira urgente –

Segundo a coordenadora humanitária da ONU para o Iêmen, Lise Grande, neste ano foram doados apenas 1 bilhão de dólares, dos 3,2 bilhões que o país precisa.

A falta de assistência financeira leva à suspensão das operações de ajuda.

Em setembro, a ONU destacou havia suspendido uma ajuda importante para 300 clínicas, e que mais de um terço de seus maiores programas humanitários foram reduzidos ou completamente suspensos.

O PMA enfrenta uma grave escassez de fundos e precisa urgentemente de mais de 500 milhões de dólares “para garantir uma assistência alimentar sem interrupções até março de 2021”.

– Relações difíceis com os rebeldes –

O PMA mantém relações difíceis com os rebeldes huthis, acusados em 2018 de “comportamento criminoso” e de vender produtos alimentícios que eram destinados à população civil.

A organização deteve as entregas de ajuda nas áreas sob controle rebelde durante dois meses e impôs um procedimento de reconhecimento biométrico com o objetivo de evitar os desvios da assistência.

Em 2019, alcançou um acordo com os huthis, que ofereceram garantias para que a ajuda chegasse aos civis.

As agências humanitárias também se queixaram do agravamento da situação no norte do país – controlado pelos insurgentes -, com trabalhadores sob risco de serem presos ou intimidados, entre outros.

Em fevereiro passado, os rebeldes anunciaram ter eliminado a ameaça de impor taxas às ajudas.

Os insurgentes, por sua vez, acusaram o PMA de ter enviado ao Iêmen quantidades de comida “podre”, com o prazo de validade expirado, e de estar “a cargo dos Estados Unidos e Reino Unido”.

Uma fonte da ONU explicou então que a ajuda alimentar destinada às populações de Taiz (sul) foi “retida durante meses”.