A internacionalização das Organizações Globo está em marcha acelerada. Na quinta-feira, 6, a Globocabo, empresa responsável pelo setor de alta tecnologia do grupo, completou seu desembarque no mercado financeiro europeu. As ações da companhia, que há três anos figuram no rol da Nasdaq, em Nova York, estão listadas agora na Bolsa de Valores de Madri. ?Queremos uma fonte de euros?, resume o CEO Moysés Pluciennik. ?O que fizemos aqui foi plantar as bases para uma captação de médio prazo.? As nauseantes oscilações nas cotações das empresas de tecnologia parecem não perturbar as certezas da Globo. Nos últimos três anos, quando passou a ser cotada na Nasdaq, a Globocabo já viu seu lote de mil ações valer um humilde US$ 1, em março de 1999, sob efeito da desvalorização do real, escalar ao patamar de US$ 6, às vésperas de a Microsoft anunciar a compra de 9,5% da empresa, atingir um pico de US$ 18 no início deste ano e acomodar-se, agora, entre US$ 14 e U$ 15. A experiência de bater no fundo do poço para subir um a um os degraus da revalorização parece ter fortalecido a decisão estratégica de marcar posição nos mercados mundiais. ?Hoje podemos apresentar aos investidores referências internacionais no mercado de capitais?, assinala Leonardo Pereira, diretor-executivo de Finanças. ?É difícil dimensionar quanto isso vale, mas é muito.?

Teste nos EUA. Com fôlego aprovado no teste da gangorra americana, a Globocabo, antes de fazer seu movimento internacional da semana passada, optou por zerar a lição de casa. Tratou de cultivar o público da Net, seu canal de tevê a cabo, a ponto de fixar em 1,5 milhão o número de assinantes. Noutra frente, fechou parceria com a Vicom para explorar o Virtua, sistema de Internet por banda larga. Duas semanas atrás, optou por ceder 16% de seu bolo para o grupo RBS em troca da aquisição de toda a Netsul. Com isso, passou a dominar praticamente sozinha todo o sistema de tevê a cabo na região Sul, a mais rica do País. ?Temos notado uma valorização diária de um a dois por cento de nossas ações nas Bolsas de São Paulo e Nova York?, comemorava o executivo Pluciennik em Madri. Chegar à Bolsa espanhola para ficar foi um movimento duplo. Havia, sim, a decisão estratégica da Globocabo de avançar sobre o mercado de capitais internacional. Mas contou sobremaneira a agressividade dos próprios espanhóis. Eles criaram dentro da bolsa madrilense a Latibex, onde ficam expostas companhias latino-americanas que eles próprios incentivam a abrir seu capital em Madri. Seis meses atrás, os executivos da Globocabo pareciam inclinados a abordar a Europa pela Bolsa de Frankfurt, mas descobriram que era mais fácil por Madri. ?Todos os documentos exigidos pela CVM de São Paulo são aceitos aqui, praticamente não há burocracia?, conta Pereira. Não há bola de cristal nítida o suficiente para revelar, já, o futuro da Globocabo no mercado europeu, mas pelo menos para os espanhóis os sinais são claros. ?Além de deter tecnologia, a Globocabo tem faturamento e conteúdo?, anima-se o presidente da Bolsa madrilense, Antonio Zoido, que tem na ponta da língua o total do faturamento da empresa no ano passado, US$ 500 milhões. ?A tendência é que a cotação acompanhe o que acontece com as ações da companhia em Nova York.? Para avalizar pessoalmente toda a operação, Zoido sentou-se ao lado de Pluciennik durante uma longa apresentação da empresa, na quinta-feira 5, a cerca de 20 analistas de mercado e responsáveis por investimentos de fundos bancários, num improvisado auditório no primeiro andar do prédio da bolsa. Ele tem moral com aquele público. O Índice Geral da Bolsa de Madri teve uma valorização de 40% em 1998 e outros 18% no ano passado. A companhia da família Marinho, que nela tem como parceiros minoritários, além da Microsoft e da RBS, o Bradesco e o BNDESpar, está satisfeita em abrir espaços largos a baixo custo. Em Madri, os olhos dos dois principais executivos da empresa brilhavam a cada menção de que fundos de investimentos milionários, administrados pelo próprio Santander, o BBVA, o Deutsche e outros, poderão se interessar pela compra de suas ações. ?É uma possibilidade bastante concreta?, garante o coordenador da bolsa madrilense, Jesús Gonzáles. Pode ser conversa de bom vendedor, mas do lado de quem vende parece não haver tanta pressa. ?Provamos na Nasdaq que nosso papel tem liquidez?, avalia o executivo Pluciennik. ?Aqui vamos repetir o desempenho e partir para a conquista de mais uma meia dúzia de bolsas no mundo.? Ele só não diz, agora, qual será o próximo passo: ?O Brasil está em crescimento, é hora de agir?.