No prazo de quatro anos, o mercado global relacionado a blockchain crescerá mais de dez vezes, de acordo com projeções divulgadas pelo site Statista. O segmento, que até o fim de 2019 deve movimentar US$ 2,2 bilhões, alcançará US$ 23,3 bilhões em 2023. A trajetória dessa solução, nascida para ser base de transações de bitcoin, é sempre para o alto e avante. E tem tudo para tornar a tecnologia o novo super-herói do mundo digital. Graças a um efeito colateral com traços de protagonista: a transparência.

No blockchain, a estrutura baseada e, de certa forma, lastreada em banco de dados distribuídos é uma espécie de vacina contra fraudes. Indiretamente o uso da tecnologia no dia a dia do setor público poderá reduzir brechas que permitam a propagação da propina. Dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estimam que a corrupção sugue o equivalente a 2,3% do PIB nacional do setor público. Isso equivale a RS$ 172 bilhões, em valores de 2018.

Com blockchain, que torna toda transação ou etapa de um processo algo seguro, rastreável e transparente, colocar a mão no dinheiro público sem deixar rastros pode se tornar tarefa mais improvável. Não foi isso que motivou a contratação da Construtivo, empresa de tecnologia com DNA na engenharia, pela Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras da cidade de São Paulo (SP Obras). Marcus Granadeiro, presidente do Construtivo, diz que a SP Obras identificou a necessidade de uma plataforma de gestão de ativos e otimização do trabalho. “É imprescindível que os dados, de todos os ativos de obras da cidade de São Paulo ou de projetos em andamento, estejam disponíveis on-line para qualquer tomador de decisão”, diz Granadeiro. A solução se baseia na plataforma proprietária de cloud computing (nuvem) da empresa, chamada Colaborativo.

A plataforma permite funcionalidades integradas de maneira segura para todos os usuários dos projetos, internos e externos. “A gestão de processos e documentos acontece em tempo real e a partir de qualquer local”, afirma o executivo. O resultado é ganho de muito tempo, e dinheiro. Para Granadeiro, a gestão pública passa por um momento de mudança, provavelmente a maior da história. Por causa de uma origem comum, a crise fiscal. Sem dinheiro e, ao mesmo tempo, trabalhando orçamentos engessados, só tem restado a governos de todas as esferas soluções de gestão. Na área de engenharia, por exemplo, somente agora o Poder Público começa a abandonar o sistema de precificação HH – termo para homem/hora – e adotar contratos por produto, como todo o mercado faz já há um bom tempo. “Era como se a gestão pública fosse impedida de ter ganhos de produtividade”, diz.

A vantagem de sistemas de gestão em nuvem conjugados a soluções que utilizam blockchain é elevar a performance. “O primeiro grande ganho com a tecnologia é que tudo fica registrado, todos os comentários”, diz. “Porque problemas na obra muitas vezes vão aparecer anos depois, e aí ninguém localiza o registro de nada. Com blockchain isso inexiste.” Outro grande diferencial, segundo ele, é a transparência. “O workflow automatizado impede que algo fique parado sem que se saiba onde e por quem.” No fim das contas, trata-se daquilo que toda empresa, de todo porte e de todo segmento faz: usar a tecnologia para otimizar controles e melhorar o resultado financeiro.

 


Bebês registrados por blockchain

Por Letícia Belmiro

Cada época e país têm seus hábitos, ou tradições, para os recém-nascidos. Em Portugal, por exemplo, é comum que algum parente próximo presenteie o bebê com uma garrafa de vinho do Porto acompanhada de uma carta. Ambas só devem ser abertas quando a criança fizer 18 anos (meninas) ou 21 anos (meninos). A velocidade do avanço tecnológico já começa a se encarregar de criar seus ritos. E nesse universo Álvaro de Medeiros Mendonça é um pioneiro. Trata-se de um dos primeiros bebês brasileiros com registro de nascimento feito por blockchain.

O filho de Waldyr Mendonça Junior e Monique de Medeiros Gonçalves nasceu dia 8 de julho na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, e foi convidado pelo hospital para participar do projeto desenvolvido pela empresa Growth Tech em parceria com a IBM. Waldyr, que é representante comercial, afirma que o blockchain tornou o procedimento muito mais rápido. “Levei menos de cinco minutos para fazer o registro”, diz o pai.

Em 2016, o economista Fernando Ulrich postou em seu blog que havia registrado o nascimento da filha – Alice – por meio da tecnologia. Mas o trâmite não podia ser validado. “Ainda terei de me deslocar ao cartório, mas isso vai mudar”, escreveu à época. Mudou. No ano passado, Edson Neto, entusiasta de blockchain e criptomoedas, documentou o nascimento da filha, Maria Julia, na Bahia. Uma parceria com um cartório validou o documento.

No caso do bebê carioca a diferença é que a costura hospital-blockchain-cartório estava previamente pronta, por meio da plataforma Notary Ledgers, da Growth Tech, que permite a realização de serviços de cartório em ambiente virtual. O fundador da empresa, Hugo Pierre, diz que a startup buscou uma solução de eficiência “para otimizar essa área”.

Carlos Rischioto, líder de Blockchain da IBM na América Latina, explica que o método de registro do bebê teve três etapas: a primeira foi a “Declaração de Nascido Vivo”, feita pelo hospital. Depois, o responsável pela criança criou uma identidade digital na plataforma, com dados e fotos que foram validados. Por fim, todas as informações foram automaticamente enviadas ao cartório (parceiro do hospital) finalizando a certidão e a enviando de volta aos pais. Realizar os registros por blockchain ainda está em fase piloto.

Rischioto diz que o objetivo de buscar soluções usando a tecnologia é “trazer velocidade, eficiência, transparência e eliminar cada vez mais as etapas, principalmente as burocráticas, nos processos de negócios”. Em todos os segmentos econômicos.