Os ambientalistas temem que a Amazônia, “o pulmão do mundo”, seja sacrificada aos interesses dos lobbies da agroindústria se o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro chegar ao poder no Brasil.

Uma das promessas de campanha mais controvertidas do grande favorito das eleições é a fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente.

E entre a defesa da natureza e os interesses dos grandes latifundiários rurais, o capitão do Exército já parece ter decidido.

“Que fique claro: o futuro ministro sairá do setor produtivo. Não haverá mais brigas”, afirmou em uma coletiva de imprensa 11 de outubro, quatro dias depois de vencer o primeiro turno com 46% dos votos.

“Se eleito, será o início do fim para a Amazônia”, declarou o petista Fernando Haddad, adversário de Bolsonaro no segundo turno.

Para Geraldo Monteiro, cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), “como tem o apoio do lobby parlamentar do agronegócio, que é muito forte, Bolsonaro quer praticamente colocar o meio ambiente a serviço do agronegócio”.

– “Nem um centímetro a mais”

Bolsonaro também levantou a possibilidade de retomar os estudos para a construção de usinas hidrelétricas na Amazônia, o que envolve a construção de barragens com forte impacto nos cursos de água, forçando o deslocamento das populações.

Uma questão muito sensível após o longo conflito das autoridades brasileiras com as tribos indígenas para o projeto Belo Monte, uma usina em construção com a terceira maior barragem do mundo.

Em fevereiro, o candidato de extrema direita disse que, se eleito, não cederá “nem um centímetro a mais” para a demarcação dos territórios autóctones. Os indígenas reclamam que suas terras ancestrais sejam claramente delimitadas.

Entre as ideias de Bolsonaro, figura a de acabar com “o ativismo ecologista ‘xiita'”.

Em agosto, em uma visita ao estado amazônico de Roraima, ele também se rebelou contra os “controles xiitas” das agências estatais de temas ambientais, o ICMbio e o Ibama, que “prejudicam aqueles que querem produzir”.

O general Oswaldo Ferreira, que pode vir a ser o ministro dos Transportes em um eventual governo Bolsonaro, declarou em recente entrevista ao jornal Estado de S. Paulo que essas agências não servem de nada além de “‘fuder’ a paciência”.

A presidente do Ibama, Suely Araujo, reagiu em comunicado dizendo que “a implementação de projetos com forte impacto ambiental sem a análise necessária implicaria um retrocesso de quatro décadas”.

– “Graves consequências” –

Emilio La Rovere, diretor do laboratório de estudos de Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o discurso de Bolsonaro “recorda a doutrina que reinava na época da ditadura militar [1964-1985]”.

Esta doutrina do “desenvolvimento a qualquer custo” é prejudicial ao meio ambiente, visto como um “obstáculo” para a construção de estradas ou exploração de minérios.

Para o pesquisador, as promessas de campanha da extrema direita podem ter “grandes consequências econômicas em nível mundial”, colocando em risco os esforços do Brasil nos últimos quinze anos para preservar sua excepcional biodiversidade.

A emissão de gases de efeito estufa foi reduzida praticamente pela metade, principalmente graças a uma legislação mais rígida na luta contra o desmatamento. A flexibilização destas regras poderá dificultar “a transição para uma economia com baixa emissão de carbono”, alerta La Rovere.

Bolsonaro, segundo relatos, ameaçou no início de setembro, com o abandono, no caso de assumir a presidência, do acordo climático de Paris, caso “a soberania nacional” fosse comprometida, seguindo os passos de Donald Trump nos Estados Unidos.

“Será um revés ver outra grande economia presidida por alguém que nega a importância da luta contra o aquecimento global”, declarou Lisa Viscidi, especialista do centro de análise The Dialogue.

La Rovere acredita que, se essa decisão for tomada, o Brasil poderá enfrentar “sanções comerciais sobre sua exportações de carne ou de soja por parte de vários países”.