Déficit habitacional de 5,876 milhões de moradias no Brasil, que representam 8% dos domicílios, segundo dados da Fundação João Pinheiro de 2019, um dos mais recentes do setor, foi um dos principais atrativos para a Planet Smart City iniciar sua operação global no País. A proptech ítalo-britânica, líder global no desenvolvimento e construção de condomínios inteligentes, vai investir R$ 140 milhões neste ano por aqui e prevê faturamento de R$ 300 milhões. Em 2022, globalmente faturou R$ 570 milhões, quase metade no Brasil. Atualmente, possui sete empreendimentos em território nacional, sendo quatro em São Paulo, dois no Ceará e um no Rio Grande do Norte. A companhia, com sede em Londres e escritórios na Itália, Brasil, Reino Unido e Índia, tem quatro pilares de atuação: tecnologia (com soluções para melhoria da qualidade de vida dos moradores), arquitetura (moradias acessíveis e de alta qualidade), pessoas (empoderamento da comunidade) e ambiente (planejamento urbano e sustentabilidade). São dois diferenciais em relação a outros projetos semelhantes. Primeiro, um hub de inovações e serviços, aberto para moradores e também para quem não reside no local, com acompanhamento de um gestor social da proptech. Segundo, tudo gerenciado por um aplicativo, que também funciona como um marketplace para venda de produtos. “Entregar as chaves é apenas uma parte do nosso trabalho. Temos um conceito de serviços, para gerar negócios e criar um bairro inteligente de fato”, disse à DINHEIRO a italiana Susanna Marchionni, cofundadora da Planet Smart City e CEO da empresa no Brasil.

Somados, os projetos da Planet pelo mundo somam 9.542 unidades habitacionais, sendo 3.442 delas no Brasil — na capital paulista, em Aquiraz (CE), São Gonçalo do Amarante (CE) e São Gonçalo do Amarante (RN) — sim, duas cidades com mesmo nome em estados distintos. A empresa possui um Centro de Competência em Turim, na Itália, com um time de arquitetos e engenheiros responsáveis por desenvolver todos os projetos, que depois passam por customização a depender do país em que serão implementados. No Brasil, os preços partem de R$ 115 mil e vão até
R$ 600 mil. Ficam em condomínios que não são fechados, não possuem portaria nem muros, para integração da sociedade. O hub de inovação em cada projeto possui cinema, horta comunitária, ciclofaixas, playground, biblioteca e espaço para troca de livros, área fitness e para prática de esportes, piso intertravado e cozinha compartilhada.
Tudo é gerenciado por um funcionário da empresa, que fica ao menos dois anos dando suporte aos moradores, até que se formem comissões que vão tocar a organização do condomínio posteriormente. O Planet App é o painel de controle de tudo. Nele há programação e são feitas as reservas para assistir sessões de cinema, fechar datas e horários para usar os espaços compartilhados, saber quais livros estão disponíveis na biblioteca e se inscrever para cursos gratuitos de inglês. É nesse aplicativo que também está a segunda linha de negócio da Planet Smart City. Ele funciona como um marketplace em que os moradores podem comprar produtos e serviços de parceiros. A proptech faz uma espécie de leilão reverso e a empresa que oferecer o maior desconto opera no app com exclusividade e tem acesso aos moradores que acabaram de comprar suas casas e são potenciais consumidores. A parceira escolhida foi a Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, que oferece 40% de descontos em aparelhos de ar-condicionado, máquina de lavar, geladeira, micro-ondas e outros equipamentos para os moradores dos projetos da companhia. Cada venda gera um porcentual de retorno para a Planet. No Brasil esse modelo ainda não gera lucro, como na Índia. Mas caminha para isso. “Quanto mais pessoas cadastradas no aplicativo, maior a possibilidade de negócio. Na Itália [onde a parceira é a Eletrolux], foram 800 residências em um empreendimento, que geraram 800 compras de produto. Cada uma comprou ao menos um item”, afirmou Susanna.

“Temos um conceito de serviços, para gerar negócios e criar um bairro inteligente
de fato ” Susanna Marchionni, cofundadora da planet Smart City

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No Brasil, o primeiro empreendimento — que também inaugurou a atuação global da empresa, foi o Smart City Laguna que é considerada a primeira cidade inteligente acessível do mundo. Fica na cearense São Gonçalo do Amarante, a 55 quilômetros de Fortaleza. A localização é estratégica porque está perto do Porto do Pecém e das zonas industriais que proporcionam emprego a milhares de pessoas e, com isso, torna-se atrativo para quem procura habitação de qualidade e a preços acessíveis. Depois do Laguna, foram outros seis empreendimentos da Planet no Brasil, os dois mais recentes em São Paulo, na Freguesia do Ó e em Itaquera, que estão em andamento.
Agora a proptech, que recebeu US$ 203 milhões de investidores desde sua fundação em 2015, expande sua atuação na América Latina. Em parceria com a incorporadora local Prodesa y Cia, será construído um projeto vertical com 784 unidades habitacionais no município de Soacha, um dos mais populosos da região metropolitana de Bogotá. O projeto tem previsão de conclusão em 2028. Nele também haverá um planeta de soluções inteligentes.