O mercado farmacêutico brasileiro caminha para um novo recorde de vendas em 2019 após já superar a marca histórica no ano passado, de R$ 62,5 bilhões. Entre janeiro e abril deste ano, foram comercializados R$ 5,54 bilhões em produtos, em comparação aos R$ 5,12 milhões no mesmo período de 2018, segundo dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma). Além do aumento de 8,2% na receita, a quantidade de medicamentos também cresceu de 1,328 bilhão de caixas vendidas nos quatro primeiros meses de 2018 para 1,393 bilhão de 2019, alta de 4,9%.

É com este clima de otimismo que a Abbott enxerga no mercado nacional potencial para a expansão das atividades. Com 80 anos de história no País e duas plantas de produção, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, a companhia norte-americana se divide em quatro ramos de atuação: diagnóstico, dispositivos médicos, fármacos e nutrição.

Sem revelar números, o gerente geral da Abbott no Brasil, Juan Carlos Gaona, afirma que a performance da empresa é maior que o ritmo do mercado nacional. Segundo ele, as vendas da companhia devem crescer mais do que a média estimada do segmento, de entre 7% e 8% em comparação com 2018. “A Abbott é uma empresa com US$ 30,6 bilhões de vendas em todo o mundo, e aproximadamente US$ 500 milhões no Brasil, de uma forma bem distribuída nos quatro tipos de negócio”, diz.

Apesar do crescimento constante do mercado fármaco desde a última década, somente neste ano duas multinacionais anunciaram a retirada de suas unidades de produção do Brasil. Justificando a decisão como parte da reestruturação do plano global, a suíça Roche e a norte-americana Eli Lilly afirmaram que vão deixar o País até 2024. Entre as principais razões citadas estão a falta de infraestrutura, a alta carga tributária e a concorrência com o mercado de genéricos.

De acordo com Gaona, a taxação do governo ainda é um dos principais desafios para o mercado, com índices de até 35% em cima dos produtos fármacos. Ele também diz que a infraestrutura precisa passar por melhorias, como a renovação de aeroportos e outros equipamentos públicos.

Mesmo com os reveses, diz que as operações estão consolidadas no País. “Cada companhia tem seu modelo de negócio. Para o nosso, ter uma fábrica no Brasil é fundamental e não temos qualquer plano de desinvestimentos como essas companhias tiveram”, afirma.

A descrença das multinacionais com o mercado é semelhante ao clima de pessimismo econômico que tomou grande parte do empresariado nos primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro. Após o período de esperanças com a formação de uma equipe econômica com viés liberal, as expectativas acabaram frustradas com os entraves para aprovação da Reforma da Previdência, media tida como essencial para destravar a economia. As perspectivas ficaram ainda piores após a confirmação de retração de 0,2% do PIB no primeiro trimestre deste ano em comparação aos três últimos meses de 2018 segundo dados do IBGE divulgados na última quinta-feira (30).

Apesar do momento delicado, Gaona diz que os projetos da Abbott são desenvolvidos “independentemente de quem está no governo” e do que esteja fazendo. “Estamos engajados com o enorme potencial que o Brasil tem pelo tamanho da sua população e pelo número de pessoas que ainda não tem acesso a medicamentos e tecnologia”, afirma.

Como exemplo, o gerente geral cita o investimento de R$ 20 milhões da Abbott em um novo centro de pesquisa na unidade de produção do Rio de Janeiro em 2015, ano em que a economia nacional teve retração de 3,8%. Segundo Gaona, deste novo centro já saíram três novos produtos e um quarto está em fase de aprovação. “O importante é que desenvolvemos no centro do Rio de Janeiro produtos feitos do que escutamos do mercado brasileiro”, afirma. “No Rio, 90% do que fazemos é consumido do Brasil, já em Belo Horizonte, 90% da produção é para exportação.”