SÃO PAULO (Reuters) – O avanço do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre em nível menor do que o mercado esperava (+0,4% contra expectativa de +0,7% na base trimestral) foi justificado por economistas principalmente pela revisão dos números anteriores pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que bagunçou seus cálculos.

Sem esse efeito, o desempenho da economia local ganhou elogios, à medida que atingiu patamar recorde histórico, com destaque para os investimentos, enquanto a queda na agricultura foi o grande destaque negativo. Ainda assim, disseram eles, as nuances dos números parecem indicar continuação do movimento de desaceleração visto nos últimos trimestres, o que traz preocupação.

Veja comentários de profissionais do mercado financeiro:

ALBERTO RAMOS, DIRETOR DE PESQUISA MACROECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA DO GOLDMAN SACHS

“O crescimento no terceiro trimestre foi generalizado, com contribuições positivas dos principais setores econômicos do lado da oferta (serviços e indústria), e do lado da demanda com impulsos positivos dos três principais componentes da demanda doméstica. A balança líquida impactou negativamente a atividade no terceiro trimestre, uma vez que o aumento sequencial nas importações superou a sólida elevação nas exportações.

Dadas as grandes revisões de dados, nossa projeção de crescimento real do PIB em 2022 subiu para 3,2% (de 2,9%). Em 2023, esperamos que a economia cresça 1,2%.”

LUCAS MAYNARD, ECONOMISTA DO SANTANDER

“Apesar do PIB forte no terceiro trimestre, os efeitos de uma política monetária mais apertada começaram a aparecer ao longo do trimestre. De fato, vimos contribuição relevante para o crescimento vindo de segmentos não-cíclicos como aluguéis, serviços públicos e serviços de informação (fortemente beneficiados pelos cortes de impostos no período), enquanto atividades cíclicas como manufatura e varejo já haviam mostrado os primeiros impactos de uma postura monetária contracionista. Os indicadores coincidentes disponíveis para o quarto trimestre já apontam para uma contínua perda de fôlego das atividades cíclicas. Dito isso, vemos riscos de elevação da nossa atual projeção de crescimento do PIB de 2,8% para 2022. Para 2023, nosso cenário de referência contempla um crescimento de 0,7%.”

LAIZ CARVALHO, ECONOMISTA PARA BRASIL DO BNP PARIBAS

“Pelo lado da demanda, surpreendeu bastante os dados de investimentos, de formação bruta de capital fixo. Teve um avanço de 2,8% na comparação trimestral, o que fez com que a gente tivesse na comparação anual 5% de crescimento. É bastante importante. E pelo lado da oferta, já esperávamos que serviços fosse a grande força motriz, e também uma recuperação da indústria, mas o grande destaque fica sendo a agricultura, com queda de quase 1% na comparação trimestral, bastante forte nesse setor. De uma maneira geral, o PIB foi um pouco mais baixo no ‘headline’, e a composição foi boa, com exceção da agricultura. Temos a expectativa de crescimento ainda no último trimestre deste ano. Nossa perspectiva crescimento é de 3% para 2022, com ano que vem crescendo 0,5%.”

EQUIPE DO CITI PARA AMÉRICA LATINA, LIDERADA POR DIRK WILLER

“O resultado confirma que já está ocorrendo uma desaceleração econômica, dada a expansão bem mais forte observada nos trimestres anteriores. A expansão continua a ser impulsionada pela demanda interna, com destaque para o consumo privado e investimentos, com a contribuição negativa da demanda externa. Do lado da oferta, o setor industrial e principalmente o setor de serviços foram os principais impulsionadores da expansão trimestral. No geral, mantemos nossa visão de que o crescimento anual do PIB em 2022 provavelmente será torno de 2,9%, desacelerando acentuadamente em 2023 para 0,3%”.

JOÃO SAVIGNON, ECONOMISTA DA KÍNITRO CAPITAL

“PIB veio um pouco abaixo do que a gente esperava realmente, mas tínhamos destacado a incerteza com relação a esses números na margem, por conta da (esperada) revisão do IBGE. Isso acabou impactando, mas não tira o elemento que temos de crescimento robusto na atividade.

Não podemos dizer que o resultado foi ruim. Na margem, um pouco abaixo do que esperávamos, mas tendo em vista todos esses elementos de ponderação e de novas formações de série, está totalmente dentro do que a gente pode esperar”.

ROBERTO PADOVANI, ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO BV

“O Brasil está sentindo os impactos da retirada de estímulos no mundo. Não só aqui dentro. Aqui no Brasil, a história basicamente é de um aperto monetário que chega tradicionalmente de maneira defasada na economia. Então, a história do terceiro trimestre é de um mundo que desacelera por conta da retirada de estímulos monetários, e no Brasil também. A gente acha que isso sugere uma estagnação no quarto trimestre e um crescimento mais moderado no ano que vem.”

SÉRGIO VALE, ECONOMISTA DA MB ASSOCIADOS

“Veio dentro do que esperávamos. Tiveram revisões fortes para cima no primeiro semestre, acho que vai ter uma consolidação de um PIB neste ano crescendo em torno de 3%, até um pouco mais. Mas já há essa percepção de que a desaceleração começou a acontecer”.

(Por Andre Romani; reportagem adicional de Luana Maria Benedito)