O momento é de espera. Uma ansiosa espera. Nesta semana, Cesar Preti, o argentino que preside a Pfizer do Brasil, não pode fazer outra coisa a não ser recostar-se na confortável cadeira de couro de seu amplo escritório e torcer. É que nos próximos dias, os acionistas da fabricante do Viagra e da futura parceira Pharmacia se reúnem nos EUA para dar contornos finais à fusão de US$ 60 bilhões anunciada em julho deste ano. Vão avaliar os prós e contras, aparar as devidas arestas e submeter a maior transação da história da indústria farmacêutica ao Federal Trade Comission, órgão americano encarregado de aprovar ? ou não ? o negócio. A torcida para
o ok do governo dos EUA não é à toa. Juntas, as empresas criam a maior companhia do mundo no setor, com faturamento de US$ 48 bilhões. Ao se associar à Pharmacia, a Pfizer, que já é líder nos EUA e no Canadá, passará da quinta para a primeira colocação na Europa; da terceira para a primeira no Japão, da quarta para a primeira no Brasil. ?É uma posição que estamos buscando há muito tempo?, diz Preti. ?Tenho certeza de que alcançaríamos a ponta mais cedo ou mais tarde. A vantagem com a fusão é que a liderança vem mais cedo.?

Nos últimos meses, Preti enfrentou uma maratona de reuniões com os executivos da futura parceira para deixar tudo pronto caso a transação seja mesmo aprovada. Em todos os departamentos da empresa, localizada na zona sul de São Paulo, o que se vê são executivos com os crachás de Pfizer e Pharmacia discutindo metas, sinergia, portfólio de produtos. A Pfizer está especialmente animada com sua estréia no segmento de oftalmologia e oncologia, especialidades da parceira. A fusão também fará com que a empresa de Preti aumente consideravelmente a produção de toda a linha de medicamentos. Além de agregar as duas fábricas da Pharmacia no Brasil, a Pfizer, que tem uma planta em Guarulhos, erguerá nova unidade no mesmo município em 2005. ?Vamos conversar com a matriz no ano que vem para dar andamento a este projeto?, avisa Preti. A fábrica nascerá com investimentos de US$ 70 milhões e terá papel fundamental na exportação. Hoje, a companhia vende por ano US$ 40 milhões em medicamentos para América Latina, Ásia e África.

Enquanto costura a operação Pharmacia, o executivo prepara outros lances para dar um empurrãozinho à sonhada liderança. A partir deste mês, a empresa vai acrescentar US$ 35 milhões ao seu faturamento anual (de US$ 191 milhões) com a comercialização de sete medicamentos do laboratório Aché. A integração dos produtos se deve ao vencimento de um contrato firmado entre o Aché e a Warner-Lambert que dava ao laboratório brasileiro a licença para vender no País marcas como Postan ou Caladryl, entre outras. Como a Pfizer adquiriu a Warner-Lambert em 2000, teve apenas de aguardar o fim do acordo de licenciamento para absorver as marcas do Aché. Com os novos remédios, a empresa de Preti turbina a área de produtos vendidos sem prescrição médica.

Outra novidade é a utilização do Viagra para o público feminino. Em setembro, a Pfizer apresentou a primeira pesquisa sobre o assunto e deve retomar as análises no ano que vem. ?É um processo demorado?, revela. Mas vale a pena. Hoje, o Viagra responde por vendas de US$ 1 bilhão no mundo todo. E mesmo com a chegada de concorrentes, Preti garante que a Pfizer não sofreu nenhuma queda de receita. ?O nosso azulão é imbatível?, brinca o presidente. Agora, é só aguardar a Pharmacia.