Por Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) -Membros integrantes da família fundadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) foram alvos nesta quinta-feira de uma operação da Polícia Federal (PF) que apura uma série de crimes supostamente praticados por meio da instituição de ensino, entre eles corrupção, fraude licitatória, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Em nota, a FGV repudiou a operação, a qual classificou como “perseguição”.

Segundo a PF, cerca de 100 policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão. A sede da FGV, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro foi um dos alvos, disseram fontes da PF.

A Justiça Federal do Rio de Janeiro expediu 29 mandados, sendo que 26 no Rio e três em São Paulo.

Segundo fontes da PF, entre os principais alvos da operação estão três integrantes da família Simonsen: Ricardo Simonsen, que ocupa cargo de diretor na FGV, Maria Inês Norbert Simonsen e Rafael Norbert Simonsen.

A investigação sobre as fraudes começou em 2019 após denúncia de que a FGV era utilizada por órgãos federais e estaduais para “fabricar pareceres que mascaravam o desvio de finalidade de diversos contratos que resultaram em pagamento de propinas”, disse a PF em comunicado à imprensa que não identifica a instituição e as pessoas investigadas.

Segundo a PF, a instituição se transformou em um “verdadeiro biombo legal”.

A FGV disse nesta tarde em comunicado que foi surpreendida pelos mandados de busca e apreensão. Segundo a instituição, a medida trata de temas “requentados” e faz parte de uma “perseguição” contra a instituição e seus dirigentes.

“Supostos fatos de até 15 anos atrás…redundaram no ajuizamento de uma Ação Civil Pública que teve sua inicial indeferida e, rigorosamente, versou sobre todos os temas agora utilizados para deferimento da medida de busca e apreensão”, disse a instituição.

A instituição ainda mencionou um termo de ajustamento de conduta firmado com o Ministério Público do Rio de Janeiro, e afirmou que tomará as medidas cabíveis.

A FGV oferece cursos de graduação e pós-graduação em diversas áreas, e presta consultoria para empresas públicas e privadas. A instituição também é responsável pela divulgação de indicadores e índices econômicos acompanhados de perto pelo mercado como IGP-M e IGP-DI.

Além de pareceres considerados pelas autoridades como “inverídicos” por “camuflarem a corrupção dos agentes públicos”, as investigações apontam que a “entidade superfaturava contratos sem licitação e fraudava processos licitatórios”.

Segundo a PF, a instituição encobria a contratação direta ilícita de empresas indicadas por agentes públicos, de empresas de fachada criadas por seus executivos, e fornecia, mediante pagamento de propina, vantagem a companhias que concorriam em licitações coordenadas por ela.

“Para ocultar a origem ilícita dos valores, além das empresas de fachada nacionais, observou-se que diversos executivos titularizam ‘offshores’ em paraísos fiscais como Suíça, Ilhas Virgens e Bahamas, indicando não só a lavagem de capitais, como evasão de divisas e de ilícitos fiscais”, disse a PF.

As penas pelos crimes alvos das denúncias podem chegar a quase 90 anos de prisão, informou a PF.

(Edição Alberto Alerigi Jr.)

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