SÃO PAULO (Reuters) – A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira operação para desarticular uma organização criminosa que planejava realizar ataques, como homicídios e extorsão mediante sequestro, contra o senador Sergio Moro (União-PR) e outras autoridades públicas, informaram a PF e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.

O ministro disse em entrevista coletiva que a organização visava ataques a Moro e autoridades judiciais, como um promotor do Estado de São Paulo e membros de forças policias e do sistema penitenciário de vários Estados.

“Havia um planejamento em curso para a execução de ações violentas, tendo vários alvos. Um promotor do Estado de São Paulo, que era o alvo original de onde nasce a investigação… autoridades do sistemas penitenciário de vários Estados, integrantes das polícias de vários Estados e também, hoje, o senador da República Sergio Moro”, disse Dino a repórteres.

Um ministro do governo com conhecimento das investigações disse à Reuters, sob condição de anonimato, que o plano era organizado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e não tinha motivação política.

Em entrevista à GloboNews, Moro vinculou os ataques do crime organizado à sua atuação à frente do Ministério da Justiça durante parte do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Nós tivemos um enfrentamento extremamente eficiente contra o crime organizado. Inclusive as ações de hoje constituem uma retaliação”, disse Moro à GloboNews, relatando que durante sua gestão foram realizados confiscos de bens e patrimônio de organizações criminosas, transferências de lideranças do crime organizado para presídios federais e ações para bloquear a comunicação de detentos com o exterior.

O senador também aproveitou a entrevista para anunciar que protocolou um projeto de lei que visa “melhorar a legislação” para conferir mais rigor a ações como a da PF nesta quarta. Uma das frentes da matéria mira no aumento da segurança de magistrados, promotores e policiais envolvidos no combate ao crime.

“Nós estamos também ali (no projeto) prevendo a criação de crimes específicos para punir esses atos de planejamento de atentados contra autoridades públicas, porque como nós vimos hoje, a polícia agiu. Essas pessoas vão responder na forma da lei”, afirmou, explicando que a legislação atual não criminaliza o planejamento de ações do tipo.

Também presente na entrevista, a esposa do senador, deputada Rosângela Moro (União-SP), afirmou que esta não foi a primeira vez que ela e o marido foram alvos de ameaça, mas não com essa proporção.

“Dessa envergadura, de estar dentro do crime organizado, de tráfico de drogas, de PCC … foi a primeira vez”, relatou a deputada.

Sob o então comando de Moro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública coordenou em fevereiro de 2019 a transferência de 22 presidiários, incluindo líderes do PCC, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, de São Paulo para o sistema penitenciário federal. Os presos foram transferidos para uma unidade federal em Porto Velho, em Rondônia, com o objetivo de isolar as lideranças para facilitar o enfrentamento à organização criminosa.

Em março do mesmo ano, o ministério anunciou a transferência de quatro presidiários, incluindo Marcola, de Porto Velho para uma unidade federal de Brasília, como uma medida de “alternância de abrigo dos detentos de alta periculosidade”, e mencionou que a ação era complementar à operação do mês anterior.

Em uma publicação no Twitter após a deflagração da operação desta quarta-feira, Moro citou “planos de retaliação do PCC contra minha pessoa, minha família e outros agentes públicos”. O senador afirmou que fará um pronunciamento no Senado nesta tarde sobre o assunto e agradeceu a PF, as Polícias Militares do Paraná e de São Paulo e as polícias da Câmara e do Senado.

De acordo com a PF, foram expedidos 24 mandados de busca e apreensão, sete mandados de prisão preventiva e quatro mandados de prisão temporária no âmbito da chamada Operação Sequaz. As ações contaram com 120 policiais nos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia e São Paulo.

A PF ainda disse que os ataques poderiam ocorrer de forma simultânea, com a maioria dos investigados em São Paulo e Paraná.

O ministro da Justiça rejeitou que uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista na terça-feira, em que disse que pensava em se vingar de Moro durante o período em que esteve preso por ordem do então juiz, possa ter qualquer relação com o caso agora investigado pela PF e disse ser leviano fazer qualquer associação política com a situação.

“É vil, é leviana e descabida qualquer associação com a política brasileira. Eu fico espantado com o nível de mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria… tão séria que foi feita em defesa da vida e integridade de um senador de oposição ao nosso governo”, disse Dino.

“Não se pode pegar isoladamente uma declaração de ontem… e vincular a uma investigação que tem meses.”

(Por Fernando Cardoso e Alberto Alerigi Jr.; Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello, em Brasília)

tagreuters.com2023binary_LYNXMPEJ2L0U0-BASEIMAGE