Jornalisticamente, uma pergunta move qualquer reportagem séria: a quem interessa? Essa pergunta é ainda mais imprescindível na operação da Polícia Federal (PF) realizada na quarta-feira (15) contra Ciro Gomes, pré-candidato à presidência pelo PDT, e Cid Gomes, seu irmão senador. “Tenho absoluta certeza de que é ordem do Bolsonaro”, afirmou Ciro. A operação pretende apurar supostos desvios nas obras do estádio Castelão, no Ceará, para a Copa de 2014. Segundo Ciro, a origem do inquérito é uma delação premiada de alguém que assume nunca ter falado com ele. “Vou processar todos os envolvidos.” Ele questiona também tanto tempo entre os supostos desvios e a ação policial. O juiz que embasou a ação, Danilo Dias Vasconcelos de Almeida, passou a ter outras decisões ­— como a de inocentar um homem que em redes sociais negou o holocausto — criticadas por apoiadores de Ciro. Parte da mídia nacional diz apressadamente que a ação não poderia partir de Bolsonaro, que perderia com o desgaste de Ciro. Em tese, votos do pedetista iriam para Lula, complicando a vida do atual presidente nas eleições de 2022. Mas o material gerado na quarta-feira pode ser fartamente usado em campanha contra Lula, pelas ligações entre Ciro e o ex-presidente, de quem já foi ministro. As suspeitas sob o comportamento da PF são inevitáveis desde que Bolsonaro decidiu aparelhar o órgão. “Eu não vou esperar foder minha família toda para trocar alguém da ponta da linha”, afirmou JB na vergonhosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020. A pergunta volta: a quem interessa?

CÂMBIO
Pé no acelerador

Parece que foi ontem quando o ministro da Economia disse que apenas se ele e sua equipe fizessem muita besteira o dólar chegaria aos R$ 5. Era março de 2020. Pois chegou. E como o piloto de F1 Max Verstappen fez no GP de Abu Dhabi, domingo (12), quando se tornou campeão mundial pela primeira vez, a moeda americana se aproximou, acelerou, passou e caminha para os R$ 6. Na tarde de quarta-feira (15), era negociada a R$ 5,718 — mesmo após intervenção do Banco Central (BC), que
leiloou US$ 950 milhões para tentar segurar os preços. Paulo Guedes poderia calar um pouco a boca.

CANNABIS
Malta liberada

Arquipélago de pouco mais de 500 mil habitantes — equivalente à cidade de Florianópolis —, Malta se tornou oficialmente, na terça-feira (14), o primeiro país europeu a ter lei que permite o cultivo pessoal e o uso recreativo de maconha. Outras nações europeias, como Espanha, Holanda e Portugal, atuam numa zona cinzenta de tolerância e costumam permitir o consumo pessoal em pequenas doses. No caso de Malta, será permitida a posse de até 7g, para maiores de 18 anos, e permitido o cultivo de até quatro plantas de cannabis em casa, podendo o morador armazenar no máximo 50g de forma desidratada. Em entrevista ao The New York Times, Owen Bonnici, ministro de Igualdade, Pesquisa e Inovação do país, que apresentou o projeto de lei, afirmou que a nova legislação pode acabar com a criminalização e eliminar o comércio ilegal. “Malta pode ser um modelo de redução de danos”, disse.

“Parei de acreditar em Papai Noel aos 6 anos. Foi quando entrei numa loja de departamentos e ele me pediu autógrafo” Shirley Temple (1928-2014) Celebridade mirim americana que estreou no cinema com 3 anos.

CRISE DA UCRÂNIA
Putin e Xi Jinping juntos

Yin Bogu

Rússia e China deram na quarta-feira (15) uma das mais contundentes declarações conjuntas de aliança. E nada foram de diplomáticos, ou usaram entrelinhas. Foram explícitos. “Apoiamos uns aos outros firmemente em questões que dizem respeito aos interesses fundamentais de cada um e à salvaguarda da dignidade de cada país”, disse o presidente chinês Xi Jinping a seu colega russo Vladimir Putin, por meio de videochamada, segundo relatos da mídia estatal chinesa. Os russos estariam movimentando 100 mil militares para a fronteira que mantêm com a Ucrânia, temerosos de que o país vizinho se junte formalmente à Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan). Em 2014, Moscou anexou a região ucraniana da Crimeia, causando reação internacional por meio de sanções econômicas.

NATAL EM CRISE
Bispo italiano diz que Papai Noel não existe

Pobre, Babbo Natale, como o Papai Noel é chamado na Itália. No começo do mês, o bispo de Noto, comuna siciliana cuja catedral é dedicada a San Nicolau de Mira, teria dito para crianças locais que visitavam o santuário que o velho batuta não existe. O barulho foi grande. Em especial dos pais, malucos por ter de se explicar aos filhos após a fala episcopal. Ainda mais num país profundamente católico. Monsenhor Antonio Staglianò precisou dar entrevistas e contextualizar o que disse. “Não contei que Papai Noel não existe”, afirmou o bispo. “Apenas afirmei que se trata de um personagem imaginário, inventado pela Coca-Cola, que só traz presentes para quem tem dinheiro.” A seguir trechos da entrevista do monsenhor ao jornal La Repubblica:

— “Falei sobre a necessidade de distinguir o que é real do que não é. Então, dei o exemplo de São Nicolau de Mira, um santo que trazia presentes aos pobres. Na tradição anglo-saxônica, ele se tornou o Papai Noel, mas certamente não o Papai Noel criado pela Coca-Cola.”

— “Eu queria explicar que uma cultura consumista baseada em presentes é diferente da cultura de dar, que é base da verdadeira mensagem do Natal.”

— “O verdadeiro significado do Natal está contido naquela caverna, no frio e na geada, onde o menino Jesus nasce em um berço entre a palha, que certamente não era enviada da Amazônia.”

— “O Natal não pertence mais aos cristãos. A linguagem se esvaziou. Até o próprio presépio foi explorado, reduzido a um objeto de beleza. A mensagem cristã se torna um recipiente vazio.”

UM BRINDE
Liderança etílica

Fim de ano chegando, momento em que confraternizações levam o consumo de álcool a crescer. No ranking mundial per capita feito pelo Visual Capitalist, a partir de dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), os países europeus ocupam oito dos
dez primeiros postos, mas a liderança fica com os 17 mil habitantes das Ilhas Cook, no distante Pacífico Sul. O Brasil está no bloco intermediário, entre 188 países.