O som do motor do Fórmula 1 pilotado pelo tetracampeão mundial Lewis Hamilton encerra a cerimônia de inauguração do Centro Global de Inovação da Petronas em Turim, na Itália, na quarta-feira 14. Um forte cheiro de óleo queimado invade o ambiente. Nada mais apropriado para o anúncio que viria a seguir. A petroleira estatal da Malásia informou que vai investir US$ 60 milhões para avançar no mercado de lubrificantes. E, assim como Hamilton, vai pisar fundo no acelerador. Desse total, R$ 30 milhões foram dedicados a um centro de pesquisa em Contagem (MG) para desenvolver lubrificantes adaptados para todos os segmentos da indústria.

Guilherme de Paula, CEO da Petronas Americas: “Avançamos da sétima para a quarta posição no mercado nacional de lubrificantes” (Crédito:Fred Magno)

A decisão é estratégica. Quase todo o faturamento, que em 2017 foi de US$ 50 bilhões, vem do fornecimento de gás natural para o Japão e para a China. A subsidiária Petronas Lubricants Internacional (PLI) responde por apenas 3% dos negócios. A questão é a diferença de margens. Nos lubrificantes, a rentabilidade média é de 12% ao ano, quase o dobro dos 7% do gás natural, segundo a consultoria americana CSI Market. Para elevar o percentual nos lubrificantes, a estatal aposta em marketing e em inovação. Do lado do marketing, a Petronas renovou a parceria com a escuderia Mercedes na Fórmula 1, que já dura sete anos. Quanto à inovação, ela está apostando em centros na China, na África do Sul, nos Estados Unidos e, agora, no Brasil. “O centro de Turim vai comandar uma rede neural de inovação global”, diz Giuseppe D’Arraigo, presidente da PLI.

O laboratório do Brasil é estratégico para a operação na América do Sul. “O Brasil é o nosso maior mercado na região”, diz D’Arraigo, sem revelar números. A Petronas produz 150 milhões de litros por ano na fábrica de Contagem, e cerca de 10% são exportados para países vizinhos. A unidade foi adquirida pela Petronas em 2008 e hoje opera com 70% da sua capacidade instalada. Grande parte das vendas para o Brasil vem da parceria com a Fiat, cujos carros saem da fábrica com o óleo da companhia.

O centro de pesquisa brasileiro se insere na reestruturação da Petronas por aqui, um processo iniciado em 2012. A mudança contemplou investimentos de R$ 350 milhões para melhorar a operação, em especial a distribuição. A companhia também capacitou os 30 técnicos que trabalham nos laboratórios. “Como resultado, avançamos da sétima para a quarta posição no mercado nacional de lubrificantes”, diz Guilherme de Paula, presidente da operação nas Américas. “O objetivo é alcançar a liderança.” A Petronas tem uma fatia de 9,6% desse mercado.

Margem de lucro: rentabilidade dos lubrificantes é quase o dobro da do gás natural, principal produto da estatal Malaia (Crédito:Divulgação)

O apetite da companhia malaia pela expansão da atividade acompanha a dinâmica agressiva do negócio de lubrificantes acabados, graxas e outros óleos, que movimenta mais de R$ 20 bilhões por ano no País. Anunciada no fim de janeiro, o início da joint venture entre a americana Chevron e a brasileira Ipiranga, da Ultrapar, sacode o segmento. A união das companhias cria a Iconic, que já nasce com 24,6% do mercado, e ultrapassa a Lubrax, da Petrobras, que tem a fatia de 22,6%, de acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom).

“A chegada da Iconic abre espaço para novas fusões”, diz o consultor Manoel Honorato, que acompanha o segmento há três décadas. Segundo ele, a Petrobras pode mostrar uma postura mais agressiva e fazer aquisições para retomar a liderança. “Mas isso vai depender de uma cuidadosa avaliação. Não podemos esquecer que a estatal está com foco em desinvestimentos.” A Petronas não descarta uma compra para acelerar o crescimento. “Estamos todo o tempo estudando hipóteses e avaliando oportunidades”, diz Marcelo Capanema, diretor técnico da companhia no Brasil.