Foi mais do que um mero atentado a uma refinaria saudita. As contas de produção do petróleo estão invariavelmente comprometidas. Os 5% do suprimento mundial — equivalentes a 5,7 milhões de barris/dia, algo como o dobro da produção da Petrobras — que deixam de sair das instalações atingidas sinalizam tempos difíceis para o mercado. Mesmo as alegações dos produtores de que irão normalizar o fornecimento em um mês não diminuem a tensão. O novo choque do petróleo, o maior desde a Guerra do Golfo em 1991, é demolidor em meio aos ventos recessivos que assombram o mundo.

Bolsas derreteram em um primeiro momento temendo desdobramentos ainda mais extremos como o de um conflito na região. O episódio como um todo reforça a sensação de desordem global e alimenta a gestação de crises. No Brasil, a tática de avestruz, como historicamente tem se comprovado, não ajuda muito. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou fugir do assunto como o diabo da cruz. Indagado sobre o que fazer qunato às remarcações dos derivados, disse que a política de preço dos combustíveis é com a Petrobras. O governo, oficialmente, estabeleceu que o valor na ponta final da bomba não muda. Por enquanto.

Péssimo sinal. O impacto do ataque incendiário é inevitável e o “congelamento” de tarifas, mesmo que temporário, incita preocupações dos investidores. O tal liberalismo propagado pela equipe econômica está sendo posto em xeque. Mais uma vez. O mandatário Bolsonaro parece querer repetir a ex-presidente Dilma Rousseff, com iniciativas populistas que fracassaram. Teme, sobremaneira, a reação dos caminhoneiros, que já paralisaram o País no ano passado trazendo caos e impactos no PIB.

Nesse aspecto, qualquer aumento na tarifa do diesel por conta da situação tende a ser incendiário — com perdão do trocadilho. O choque do Petróleo em andamento coloca em xeque políticas públicas tanto aqui como lá fora. O fim da dependência desse insumo na matriz energética é um objetivo comum a todos. Os combustíveis fósseis são tidos como ultrapassados, mas o mundo ainda depende umbilicalmente deles. Não se pode deixar de assinalar que, em meio à crise, o Brasil será, por tabela, beneficiado em seu programa do pré-sal.

O aumento no número de interessados em participar dos leilões do setor parece inevitável. O pré-sal por aqui está longe das conhecidas áreas de conflito e há reservas significativas para conquistar gordos recursos estrangeiros. O governo Bolsonaro estuda ainda mudar o regime de exploração, feito até aqui em caráter de partilha, para um modelo de concessão direta dos campos de produção. Será uma iniciativa louvável, que trará vantagens competitivas enquanto os demais países seguem amargando as consequências do problema recém-criado.

(Nota publicada na Edição 1139 da Revista Dinheiro)