Apesar da disparada do preço do petróleo nesta segunda-feira, 16, por causa dos ataques às refinarias da Arábia Saudita, a Petrobrás não deverá repassar imediatamente os aumentos para o consumidor brasileiro. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a estatal vai avaliar o comportamento do preço do petróleo nos próximos dias para depois decidir se irá revisar os preços dos combustíveis no Brasil. Na prática, significa que, por ora, a petroleira vai segurar os preços dos combustíveis.

O presidente Jair Bolsonaro ligou para o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, em busca de esclarecimentos sobre a situação do setor, disseram fontes da companhia. O executivo informou que não haverá repasse imediato nos preços dos combustíveis e que vai continuar seguindo sua política de paridade de preços.

A ideia da estatal oficial seria dar continuidade à política atual, que atrela os preços às cotações no mercado internacional, com repasses à medida em que há mudança de patamar dos valores. Nesta segunda a cotação do petróleo chegou a subir mais de 20% – a maior desde 1991, época da Guerra do Golfo. No fim do dia, o preço do barril fechou em alta de 14,67% em Nova York, a US$ 62,90. Em Londres, a alta foi de 14,61%, a US$ 69,02.

O presidente Jair Bolsonaro confirmou na noite desta segunda-feira, 16, que a Petrobras vai segurar o preço da gasolina, apesar da disparada no valor do petróleo após os ataques a refinarias na Arábia Saudita, ocorridos no fim de semana. Bolsonaro afirmou, em entrevista à RecordTV, que conversou sobre o assunto com o presidente da estatal, Roberto Castello Branco.

Bolsonaro disse que a tendência natural seria seguir o preço internacional, que “viria para a refinaria, para a bomba no final das contas”. “O governo federal já zerou seu imposto federal, que é a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Não podemos exigir nada dos governadores no tocante a ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)“, disse o presidente. “Mas, o que acontece… Conversei com o presidente da Petrobras e ele disse que, como é algo atípico e tem um fim para acabar, ele não deve mexer no preço do combustível”, declarou Bolsonaro.

A preocupação de especialistas e investidores é que a empresa seja usada, novamente, para atender às demandas do governo, como aconteceu no passado para segurar a inflação. A companhia mantinha os preços dos combustíveis inalterados apesar das oscilações externas, o que gerou um rombo no caixa da companhia.

Se o mercado perceber que a mesma prática está sendo adotada pela gestão atual, seu programa de venda de refinarias será afetado, porque nenhuma empresa terá interesse em fazer parte de um setor comandado por interesses políticos e não econômicos.

A notícia de não repasse imediato pode não ser bem recebida pelo mercado e reverter os ganhos que a empresa teve nesta segunda na Bolsa. As ações ordinárias da petroleira subiram 4,52% e as preferenciais, 4,39%. O movimento fez a estatal ganhar R$ 16 bilhões em valor de mercado.

“Se essa alta não for repassada, por causa da pressão dos caminhoneiros, a imagem da Petrobrás pode ser afetada. Ou seja, a governança da petroleira está em jogo”, disse Luís Sales, analista da Guide Investimentos.

No primeiro semestre, o presidente Jair Bolsonaro chegou a acionar o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, para intervir na política de preços da companhia, que acabou castigada por investidores.

O diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, expressou preocupações com o mercado em uma série de posts no Twitter. Ele chegou a classificar a questão como uma “espécie de 11 de setembro”, em referência ao ataque terrorista ocorrido em Nova York, há 18 anos.

O atentado de sábado interrompeu a produção de 5,7 milhões de barris diários de petróleo, montante que representa metade do exportado pelos sauditas e 5% da produção diária no mundo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.