Foi de uma virulência sem precedentes os disparos lançados pelo governo, pelo Congresso e até pelo Judiciário contra a estatal do petróleo, numa ação quase coordenada para interferir na marra nos preços dos combustíveis, em sobranceiro atrevimento à Lei. Mesmo sabendo, já no sábado (18), que o atual presidente da companhia pediria demissão em meio a mais um reajuste nas tarifas, o titular da Câmara, Arthur Lira, mirou munição no executivo, que não tem poder de controle sobre o assunto. Fazia parte do espetáculo farsesco para angariar alguns trunfos políticos em plena eleição. Do mesmo modo como a CPI a ser instalada para investigar sabe-se lá quais irregularidades, dado que a Petrobras segue à risca a regra da paridade do barril internacional. Bolsonaro, Lira & Cia. adotaram a política do grito como estratégia. Planejam gastar outros R$ 50 bilhões acima do teto dos gastos para bancar um controle artificial na ponta da bomba por poucos meses, enquanto durar o afã de campanha. Dinheiro jogado fora. Tem mais: querem maior controle sobre as estatais e uma alteração completa da política de preços, que contraria por completo o modelo de liberalismo econômico pregado pelo ministro Paulo Guedes. O apetite politiqueiro é grande e a empresa vai nessa toada se aproximando perigosamente do modelo venezuelano de gestão que colocou tudo a perder. Uma temeridade. Nos gabinetes técnicos e mesmo no mercado, a reação é de espanto com tamanha interferência. O abuso na troca-troca de comando — que agora leva a Petrobras ao quarto presidente durante o mandato de Bolsonaro — já havia incomodado investidores. As perdas bilionárias se acumulam e não parecem incomodar nem o governo que, ainda no apogeu da crise, se vangloriava do risco de a estatal perder R$ 30 bilhões em valor de mercado em um único dia. “E vai perder mais 30”, tonitruava o capitão. A pirotecnia populista não renderá, entretanto, o efeito desejado. Eventuais descontos na ponta do consumo já são engolidos por novas remarcações inevitáveis diante da variação internacional. Os reajustes jogam por terra os planos do mandatário de tirar proveito da situação. Caminhoneiros, mais afetados pelo peso do diesel, falam em greves prometendo parar de novo o País. E o parlamento, desesperado, estuda até sobretaxar a exportação de petróleo, comprometendo também a balança comercial. “Vamos com tudo para dentro da Petrobras”, estabeleceu Bolsonaro, como a esquecer ou deliberadamente deixar de lado o fato de o governo ser o maior acionista e recebedor de gordos dividendos da companhia. Dias atrás, recebeu outro grande cheque, de mais de R$ 8 bilhões, por conta dos bons resultados. Uma dinheirama sem a qual o Estado não anda — especialmente em tempos de gastança acima do teto fiscal. A retaliação oficial cumpre o papel de jogar para a torcida. Tabelamento do ICMS e promessa de compensação a estados que zerarem a alíquota vão cobrar uma alta conta logo ali na frente, para o próximo governo, e representar alto prejuízo no bolso do consumidor, mais cedo ou mais tarde. A pá de cal, com a ideia de privatização da estatal, também parece mais uma medida oportunista sem qualquer lastro para conter o verdadeiro problema. Sob ataque, a Petrobras enfrenta atualmente o maior teste de sobrevivência da história.

Carlos José Marques
Diretor editorial