A possibilidade de se chegar a um acordo sobre o primeiro orçamento da União Europeia (UE) sem o Reino Unido parece remota nesta sexta-feira (21), depois de uma noite de reuniões entre líderes.

No início do segundo dia de cúpula em Bruxelas, o grupo formado por Dinamarca, Holanda, Áustria e Suécia, apelidado de “quatro frugais”, estava no olho do furacão por causa de sua ofensiva para reduzir suas contribuições ao orçamento.

“Eu não entendo por que viemos aqui, porque (…) se o novo grupo de contribuintes líquidos diz que quer pagar no máximo 1% [da Renda Nacional Bruta (RNB)], não temos nada a discutir”, afirmou o primeiro-ministro tcheco, Andrej Babis.

Sua colega dinamarquesa, Mette Frederiksen, também descartou um acordo “neste fim de semana”.

“Fomos claros desde o início. Não vamos pagar a conta”, disse um diplomata deste grupo de países ricos.

Debatida pelos líderes desde quinta-feira, a base da negociação é a proposta do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, de um orçamento de 1,074% da RNB, equivalente a cerca de 1,094 trilhão de euros.

Os “frugais” querem limitá-lo a 1% do RNB e insistem em manter seus controversos “cheques”, isto é, o reembolso de parte das contribuições que fazem ao orçamento comum e que países como Espanha e França desejam eliminar.

Segundo uma fonte europeia, esses quatro países “bloqueiam” a negociação porque querem os reembolsos, mas transferem a responsabilidade do bloqueio para Michel. Acusam-no de ser “muito favorável” aos interesses franceses.

Já a França lidera a batalha para “melhorar” a dotação da Política Agrícola Comum (PAC), uma questão delicada em seu país que poderia prejudicar o presidente Emmanuel Macron na véspera do início do Salão da Agricultura, em Paris.

A proposta de Michel apresenta cortes nessa política de ajuda aos agricultores e nos fundos de coesão, que passam de 69%, no atual orçamento de 2014-2020, para 59%.

“Nada está decidido. Vários países atacaram a PAC. É nossa prioridade e lutamos por ela”, segundo uma fonte diplomática. Pouco antes, o ministro da Agricultura, Didier Guillaume, disse que o financiamento atual seria mantido.

Exemplo das difíceis negociações, o presidente do Conselho adiou a retomada da cúpula. Alguns países esperam uma nova proposta de negociação.

O Quadro Financeiro Plurianual (MFP) para 2021-2027 é o centro da reunião, mas, além dos percentuais, os europeus devem decidir o impulso que desejam dar à União Europeia (UE) após várias crises.

A saída em janeiro do Reino Unido, potência econômica e militar do bloco, tornou mais evidente as divisões entre norte-sul na UE, devido à crise econômica, e leste-oeste, devido à migração.

E tudo isso em um contexto global, no qual os Estados Unidos de Donald Trump pressionam a frente comercial, a China representa um risco tecnológico, e a Rússia continua sendo a principal preocupação nas portas da UE.

A Comissão Europeia defende, assim, uma nova estratégia de crescimento baseada no combate às mudanças climáticas e no desenvolvimento dos setores tecnológico e militar, sem esquecer as políticas de setores tradicionais, como a agricultura.

Em 2018, Bruxelas solicitou um MFP equivalente a 1,114% da Renda Nacional Bruta (RNB) da UE, mas o número pode ser menor.

Não é fácil encaixar todas as peças do quebra-cabeça da MFP, em um contexto em que a saída do Reino Unido representa uma perda de 12 bilhões de euros por ano.

A Alemanha e outros países ricos querem priorizar o Pacto Verde Europeu, ou a proteção das fronteiras, no centro da estratégia da nova Comissão Europeia. Outros, como França e Espanha, não querem que isso seja feito em detrimento da agricultura, enquanto os países do sul e do leste temem cortes na ajuda a regiões menos desenvolvidas.