Há 780 mil anos, os antepassados do Homem moderno gostavam de peixe bem cozido, revelaram pesquisados israelenses em estudo publicado nesta segunda-feira (14).

A pesquisa seria a evidência mais antiga do uso do fogo para cozinhar.

“Foi como estar diante de um quebra-cabeça, com cada vez mais informações até poder contar uma história sobre a evolução humana”, explicou Irit Zohar, principal autora do estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution.

Muito pouco se sabe sobre os hábitos alimentares dos primeiros humanos. A pesquisa lembra que as primeiras “provas definitivas” encontrada do uso da cocção foram encontradas há 170 mil anos com os neandertais e o Homo sapiens.

O estudo resultou de 16 anos de trabalho de Irit Zohar, arqueóloga do Museu Steinhardt de História Natural da Universidade de Tel Aviv, em Israel.

A cientista catalogou milhares de restos de peixes encontrados no sítio arqueológico de Gesher Benot Ya’akov, no norte de Israel.

O local, próximo às margens do rio Jordão, já abrigou um lago. Os pesquisadores encontraram fósseis de peixes, que os ajudaram a investigar a origem da culinária como a conhecemos hoje.

A primeira pista veio de uma área que não continha “quase nenhuma espinha de peixe”, mas muitos dentes, explicou Zohar.

Isso indicaria um processo de cozimento, pois as espinhas dos peixes amolecem e se desintegram a temperaturas abaixo dos 500 graus Celsius, mas seus dentes permanecem.

Na mesma área, um de seus colegas encontrou pedaços de carvão, indicando que fogo foi usado no local.

Mas, “o fato de controlar o fogo para se aquecer não significa que se controle para cozinhar. Eles poderiam ter comido peixe perto do fogo”, lembrou Zohar.

As espinhas também poderiam ter desaparecido em um incêndio, explica Anaïs Marrast, arqueozoóloga do Museu Nacional de História Natural de Paris.

“Toda a questão da exposição ao fogo é se era para se livrar do lixo ou cozinhar”, aponta.

Outro indício é que a maioria dos dentes pertencia a apenas duas espécies de carpas particularmente grandes, sugerindo que elas foram selecionadas por sua carne “suculenta”, de acordo com o estudo. Algumas carpas mediam mais de dois metros.

A chave decisiva foi precisamente o estudo destes dentes e em particular do seu esmalte. Os pesquisadores usaram uma técnica chamada análise de difração de raios X para determinar se o aquecimento havia alterado a estrutura dos cristais que compõem o esmalte.

Esses “cristais se alongam quando aquecidos”, explicou Zohar.

Ao comparar os resultados com os de outros fósseis de peixes, descobriram que os dentes dessa área do lago foram submetidos a temperaturas entre 200 e 500 graus – a temperatura perfeita para cozinhar um peixe.