Por Sergio Queiroz

CURITIBA (Reuters) – A geologia da vulcânica Ilha da Trindade, no litoral no Espírito Santo, fascina os cientistas há anos, mas a descoberta de rochas feitas de detritos de plástico no remoto refúgio de tartarugas está causando alarme.

O plástico derretido se misturou com as rochas da ilha, localizada a 1.140 km do Espírito Santo, o que os pesquisadores dizem ser uma evidência da crescente influência humana sobre os ciclos geológicos da Terra.

“Isso é realmente muito novo e ao mesmo tempo assustador”, disse Fernanda Avelar Santos, geóloga da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Fernanda e sua equipe realizaram testes químicos para descobrir que tipo de plástico está nas rochas chamadas “plastiglomerados”, porque são feitas de uma mistura de grânulos sedimentares e outros detritos mantidos juntos por plástico.

“Identificamos que são provenientes de principalmente de redes de pescas. Esse é um lixo muito comum nas praias da Ilha da Trindade, que chegam pelas correntes oceânicas e se acumulam na beira da praia”, disse Fernanda Santos.

A Ilha da Trindade é um dos pontos de conservação mais importantes do mundo para a tartaruga-verde, ou Chelonia mydas, com milhares chegando todos os anos para desovar. Os únicos habitantes humanos de Trindade são membros da Marinha brasileira, que mantém uma base na ilha e protege a nidificação das tartarugas.

“O local onde encontramos essas amostras (de plástico) é uma área de preservação permanente no Brasil, próximo ao local de desova das tartarugas-verdes”, afirmou a geóloga.

A descoberta levanta questões sobre o legado dos humanos na Terra, diz Fernanda.

“O que gente fala tanto do antropoceno é isso, o antropoceno é isso daqui. Uma poluição, o lixo no mar, o plástico despejado de maneira incorreta nos oceanos, está transformando e se transformando em material geológico que pode ficar preservado no registro (do planeta).”

(Reportagem de Sergio Queiroz, da Reuters TV)

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