Uma iniciativa de universidades públicas e particulares, associações de pescadores e movimentos sociais vai reunir pesquisadores e trabalhadores na ampliação do conhecimento e no desenvolvimento socioambiental da Baía de Guanabara. O projeto da Universidade do Mar foi lançado hoje (15), durante a Festa Literária de Paquetá (Flipa), com o objetivo de instalar um Centro de Pesquisas Marinhas e Oceanográfica no arquipélago.

O campus avançado das pesquisas será o arquipélago de Paquetá, que inclui a Ilha de Brocoió, no fundo da Baía de Guanabara. O projeto da Associação de Moradores de Paquetá (Morena), do Movimento Baía Viva e da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) envolve 23 departamentos e laboratórios de universidades, além de instituições apoiadoras como a Fiocruz.

Fundador do Movimento Baía Viva, o ambientalista Sergio Ricardo explica que o projeto surgiu para aproximar a produção acadêmica e as políticas públicas. De acordo com ele, a crise ambiental no Rio de Janeiro e o sacrifício da Baía de Guanabara decorrem da falta de diálogo do poder público com as universidades.

“As universidades estudam há décadas a Baía de Guanabara e poucas vezes tiveram a oportunidade de colaborar na formulação das políticas públicas. Esse é o objetivo dessa verdadeira concertação, para que a gente possa ter, por exemplo, o monitoramento de bioindicadores. Há uma possibilidade agora da retomada das obras do saneamento básico. Nós temos que avaliar que benefícios essas obras estão trazendo ou se essas obras estão apenas gastando bilhões de reais”, explica o ambientalista.

Turismo socioambiental

Ricardo destaca que os pesquisadores pretendem aproveitar instalações públicas que já existem em Paquetá, algumas em situação de abandono, como o Solar Del Rei e o Palácio Brocoió, que pertence ao governo do estado. Outro objetivo, segundo ele, é que a Universidade do Mar forme trabalhadores locais e contribua para o desenvolvimento do turismo socioambiental, uma vocação da cidade e da Baía de Guanabara.

“Nós estamos buscando constituir, no fundo da Baía de Guanabara, uma outra economia. Nós não podemos deixar que essa expansão ilimitada da indústria do petróleo, que já vem ameaçando a pesca, ameaçando de extinção o boto cinza, avance por todo o território e pelo espelho d’água da Baía de Guanabara. Então é preciso colocar alguma coisa no lugar”, diz Ricardo.

A Universidade do Mar será gerida pela Uerj e voltada para o ensino, a pesquisa e a extensão universitária, com capacitação de professores e formação técnica das comunidades pesqueiras artesanais, com cursos em áreas como meio ambiente, turismo, pesca e aquicultura. Os organizadores propõem que o financiamento seja feito por fontes públicas e privadas, como recursos de fundos públicos ou compensações financeiras de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) firmados com grandes empresas instaladas na Baía de Guanabara.

*Colaborou Raquel Júnia, repórter do Radiojornalismo EBC