Uma maioria expressiva dos Microemprendedores Individuais (MEI) brasileiros (77%), que faturam até 81 mil reais por ano, não tem capacitação financeira e mais da metade diz estar satisfeita com os resultados do seu negócio. Essas são algumas das muitas revelações de pesquisa inédita feita pelo Sebrae no final de abril (veja box), que teve como objetivo traçar o perfil da gestão financeira dessa categoria no Brasil. Outro dado que chama a atenção, por exemplo, mostra como o MEI, figura que está presente na realidade econômica do País desde 2009, ainda está um pouco distante das modernas técnicas de gestão financeira, já que pelo menos a metade dessas pessoas continua registrando seus gastos em papel, enquanto 21% já aderiu ao
computador, sendo que a grande maioria é de jovens até 24 anos, como era de se supor, e a pesquisa corrobora.

“Se o empreendedor brasileiro é um herói, o MEI é o herói solitário. Mesmo sem o preparo adequado, se esforça para quitar as contas, pagar fornecedores e ainda consegue equilibrar o comando da empresa, o cuidado com o cliente e fechar o mês com resultados favoráveis ao negócio”, analisa o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos.

Se a maioria dos MEI não tem preparação em gestão financeira, surpreendentes dois terços dos entrevistados conseguem manter os pagamentos de todos os custos da empresa em dia, embora a metade tenha afirmado que às vezes é pega de surpresa e não sabe como pagar suas contas. As mulheres costumam pagar suas contas em atraso com menor frequência que os homens. E pode parecer contraditório, mas quase a metade não faz previsão de gastos, sendo que essa situação é maior nas faixas etárias mais velhas. Entre os entrevistados, 60% guardam diariamente os comprovantes de seus gastos e exatamente dois terços registram seus gastos em algum meio (digital e/ou no papel). “Há uma relação direta entre menores níveis de escolaridade e a quantidade de pessoas que não guarda esses comprovantes”, destaca o gerente de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae, Alexandre Comin.

Se um número expressivo dos MEIs não faz previsão de gastos, na hora de comprar eles são duros na queda. A pesquisa mostra que oito a cada 10 empreendedores fazem cotação de preços. E ainda mais: uma proporção similar (70%) costuma pedir descontos na hora de comprar algum produto ou contratar serviços. Nessa categoria empresarial, o cheque vem perdendo espaço já que apenas 29% aceitam esse tipo de pagamento, enquanto a imensa maioria (91%) aceita dinheiro vivo em suas transações, apesar das novas formas de pagamento, como cartão de crédito e débito para 44% e depósitos bancários para 40%.

Os números mostram que pouco mais de 60% dos MEI registram todas as receitas para fazer o controle das entradas de dinheiro. A metade dos microempresários verifica o saldo de seu negócio ao menos uma vez por semana. “O grupo que tem as faixas etárias mais baixas e os níveis de escolaridade maiores faz esse acompanhamento com mais frequência” acentua Alexandre Comin. Pode-se também inferir que o negócio do MEI se confunde com a vida doméstica, porque mais da metade dos entrevistados não faz nenhum registro de suas retiradas pró-labore e na mesma proporção se diz satisfeita com o resultado financeiro de seu negócio no momento. Aproximadamente 40% dos empresários afirmam que fazem vendas a fi ado e, mais crítico é que 86% já tiveram algum problema em receber o pagamento desse tipo de vendas. Com relação ao aspecto social, a figura do MEI é das mais relevantes, já que em média, um negócio tocado por um MEI beneficia quatro pessoas, sendo três delas da família e uma independente.

A pesquisa

A pesquisa Sebrae com os Microempreendedores Individuais (MEI) buscou identificar suas características quanto ao modo de gestão financeira de seus negócios. Foram realizadas mil entrevistas por telefone (C.A.T.I.) em abril. A investigação do estudo passou pelos seguintes tópicos: Controle de Gastos; Controle de Receitas; Controle de Saldo de Caixa; Previsões para Maio 2018 e Benefícios de ser MEI.

Percepção como MEI

Ao verificar a percepção dos empreendedores como MEI a pesquisa do Sebrae aponta que a decisão do governo de instituir a figura jurídica do Microempreendedor Individual foi acertada para 9 entre 10 dos empresários nessa condição. Os números continuam bastante positivos quando 67% dos entrevistados declaram que trabalhar como MEI ajudou a enfrentar a crise financeira, sendo que 82% afirmam que se tornar MEI melhorou a vida. As percepções positivas também se refletem no fato de que aproximadamente 60% dos empresários acreditam que ser MEI os tem ajudado a enfrentar a crise que o país vem passando. O mesmo percentual também pretende ter uma empresa maior no futuro, havendo um decréscimo desse interesse com a elevação da faixa etária. Apenas 27% afirmam que o principal benefício de ser MEI são os previdenciários.