Depois de ser desmentido pelos peritos criminais do Instituto Nacional de Criminalística (INC), que concluíram que não houve nenhuma edição na gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário da JBS Joesley Batista, o perito Ricardo Molina, contratado pela defesa de Temer, partiu para o contra-ataque.

Molina convocou uma coletiva de imprensa em um hotel em Brasília, na tarde desta terça-feira, 27, para desqualificar o trabalho da Polícia Federal (PF) e reafirmar que o áudio “continua a ser imprestável”.

Segundo Molina, o laudo da PF é “cheio de evasivas, nunca é conclusivo, nem categórico”. “Essa gravação transpira irregularidade”, declarou o perito, afirmando que 6 minutos e 18 segundos da gravação, equivalente a 23% da conversa, foi suprimido. “Em nenhum momento a PF provou que a gravação é autêntica”, disse.

O resultado da perícia da Polícia Federal, no entanto, é claro em afirmar que a análise “afastou a ocorrência de qualquer forma de adulteração, atestando, assim, a legitimidade plena da prova para a instrução criminal”.

O áudio faz parte das provas referidas pela Polícia Federal para afirmar, no relatório final entregue ao Supremo nesta segunda-feira, 26, que houve o cometimento do crime de obstrução de investigação de organização criminosa por parte de Temer, do ex-ministro Geddel Vieira Lima e do empresário e delator do grupo J&F Joesley Batista.

Os delegados da PF responsáveis pelo inquérito que apura a possível prática dos crimes de organização criminosa, obstrução da Justiça e corrupção passiva por Temer afirmam que, a partir de agora, o áudio passa a “servir como elemento de convicção ao presente inquérito”.

A análise dos peritos sobre a gravação realizada no dia 7 de março, em um encontro fora da agenda oficial no Palácio do Jaburu, considerou quatro tipos de análise: “perceptual e contextual”, “formato e estrutura de áudio”, “quantitativas” e do “equipamento gravador”. Na análise chamada perceptual, a perícia apontou para 294 descontinuidades no áudio cujo formato é “wave”, mas concluiu que não se trata de alterações feitas por edição de alguém, mas de interferências técnicas do próprio aparelho utilizado.

Apesar de contestar a integridade da gravação, o presidente Temer e sua defesa não apontaram, até hoje, que trechos de sua conversa com Joesley teriam sido editados, de forma que desse a entender algo diferente do que se ouve na gravação.

No dia 22 de maio, Molina havia afirmado que, após análise do áudio, não tinha dúvidas de que o conteúdo da gravação era “imprestável” e que a Polícia Federal identificaria falhas técnicas no material e uma série de pontos de edição. Molina disse que havia identificado “ao menos seis pontos de possível edição” e que não era possível afirmar que havia uma sequência lógica na conversa.

Naquela ocasião, o perito de Temer disse que as “falhas são mais que suficientes para jogar a gravação no lixo” e que o áudio continha pontos que são “sonhos de consumo de um fraudador”, além de “muitas evidentes descontinuidades que não têm explicação”.

Molina reclamou que 12 perguntas (quesitos) técnicas sobre o áudio não foram respondidas e que houve um “atropelo de fases” pela Polícia Federal, mas apenas um grupo inicial de 15 questionamentos. “Meus quesitos são técnicos. Por que não foram respondidos? Porque não estão situados na zona de conforto. Essa prova era, é e continuará a ser imprestável sempre, a não ser para fins políticos.”

O perito poderá requerer, por meio da defesa de Temer, que as perguntas enviadas à PF sejam respondidas.