O município paulista de Vinhedo tem uma das maiores rendas por domicílio do Brasil, de R$ 7,5 mil, pré-requisito para se encontrar uma forte concorrência entre operadoras de telecomunicações. Mas a Via Fibra, do empresário Rogério Marques, cresce como se não existissem adversários. Em 2016, aumentou a carteira de clientes em 50%. No ano passado, repetiu a dose. Este ano deve desacelerar, mas ainda espera crescer quase 20%, apesar de competir com Vivo e NET. A Via Fibra ainda é bem pequena. Atualmente, ela conta com 3,5 mil clientes. Mas o que importa é que a companhia, ao lado de outras 4 mil pequenas empresas, é que está puxando o crescimento de assinantes brasileiros de banda larga fixa, a grande maioria delas usando a tecnologia de fibra ótica.

Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), havia 29,3 milhões de acessos de banda larga fixa no Brasil em fevereiro deste ano. As pequenas operadoras tinham uma fatia de 21,81%. Em um ano, elas aumentaram sua participação em mais de cinco pontos percentuais. A Vivo, a Claro e a Oi, as três maiores empresas de telefonia que atuam nessa área, em contrapartida, perderam mercado, passando de 83,7% para 78,3%. “Cerca de 80% dos novos assinantes hoje vêm dessas pequenas operadoras”, afirma Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. A empresa que mais perdeu clientes é a Oi, que está em processo de recuperação judicial com dívidas de R$ 64 bilhões. Nos últimos 12 meses, a operadora observou sua base de 6,2 milhões de clientes encolher em quase 150 mil.

Os preços dos serviços variam de acordo com a região, podendo ir de R$ 90 a R$ 200 para uma conexão de 50 Mbps. Mas este não é o fator mais importante para a ascensão das pequenas operadoras, que avançam a explorar locais onde as grandes não têm interesse econômico ou não estão conseguindo atuar. Em meados de março, o executivo Adir Hannouche, da paranaense Copel Telecom, foi surpreendido com um abaixo-assinado de duas mil pessoas da cidade de Ibaiti, com 30 mil habitantes. A região é atendida pela Oi, mas os clientes reclamavam que o serviço de internet era instável e tinha velocidade baixa. Quando recebeu o abaixo-assinado, Hannouche estava para anunciar um plano de expansão, ampliando a cobertura da Copel Telecom das atuais 65 cidades para 80. A companhia atende 130 mil clientes, fatura R$ 504 milhões, cresceu 47% nos últimos 12 meses e, depois da reivindicação de Ibaiti, incluiu a cidade no seu plano de expansão. “Nossa meta é dobrar a capacidade e atingir 250 mil clientes em 2018”, diz Hannouche.

Gilbert Minionis, da Cabo Telecom: investimento de R$ 100 milhões para o crescimento orgãnico em 2018, sem contar o gasto com aquisições de operadoras regionais

A dúvida agora é por quanto tempo as menores vão conseguir manter o ritmo de expansão e se terão capacidade para reter os clientes. Uma das estratégias parece ser manter a operação local, sem tentar aproveitar alguns dos ganhos de escala que beneficiam as grandes. “Não vamos fundir, preferimos ser locais no atendimento”, diz Gilbert Minionis, que comanda as operadoras Cabo Telecom, em Natal (RN), e Multiplay Telecom, em Fortaleza (CE). “Talvez, no futuro, possamos concentrar o atendimento em um local determinado, mas até agora não foi necessário.” O grupo acaba de adquirir a operadora Direta Guaxupé, que atende 7 mil assinantes no interior de Minas Gerais.

Com a aquisição, atingiram 200 mil clientes, um crescimento de quase 50% desde 2016. Minionis ainda prevê destinar R$ 100 milhões para investir em crescimento orgânico em 2018, sem contar os gastos para aquisições de duas a quatro outras operadoras. Ele conta que avalia uma aquisição maior, o que pode aumentar significativamente o investimento previsto.
Seja qual for a região do país, todo o mercado já sente o movimento. “Até três anos, o segmento das pequenas representava 10% ou 15% do nosso faturamento de telecomunicações”, diz Celso Motizuqui, da empresa de fibra ótica Furukawa, uma das principais fornecedoras do setor. “Hoje é mais da metade. E nossa carteira de pequenas operadoras dobrou nos últimos 12 meses.”

Um dos fatores que possibilitou essa mudança foi a queda do custo. Com o aumento da demanda por redes de fibra ótica – crescem 70% ao ano no Brasil segundo a Anatel – o preço de materiais e equipamentos caiu pela metade. Isso permitiu a entrada de operações menores. “Quando começamos, o modem óptico custava R$ 500”, diz Marques, da Via Fibra. “Hoje, custa R$ 200.” Com custos caindo e investimentos subindo, é bom as gigantes das telecomunicações retomarem o ritmo. Porque se Golias não se mexer, Davi vai continuar crescendo.