Há uma conta muito comum na política brasileira durante as campanhas eleitorais que é um cálculo de mensuração de chances de poder. Essa equação geralmente é feita entre partidos do Centrão e envolve as pesquisas eleitorais, a percepção do eleitorado da legenda longe dos grandes centros e o risco de perder espaço ou apoio caso ‘aposte no cavalo errado’. E essa conta tem tirado o sono de boa parte do centrão que até aqui sustenta o atual governo, em especial as legendas mais fortes no Nordeste. A mais recente tentativa de reverter a vantagem de Lula, hoje primeiro colocado nas pesquisas, veio em forma de auxílio e benefício social, mas não teve uma conversão tão forte quanto esperavam alguns partidos para a imagem de Bolsonaro, cenário que pode mudar nas próximas pesquisas.

Com a mensuração de chances de poder mantendo o cenário atual, os partidos de centro precisam tomar rumos. Quanto antes eles apoiarem o candidato vencedor, mais ‘lealdade’ eles aparentarão ter. E esse movimento começa a ser sentido nas eleições legislativas. No começo da semana, já corria no Congresso Nacional que Lula havia dado a letra: quem o apoiar agora vai ter prioridade nas distribuições de um eventual governo. E começou um corre corre. Dos 14 partidos que hoje integram o núcleo mais duro do Centrão, pelo menos oito já estão em vias de trocar de barco.

Isac Nobrega

O único que até agora rechaça apoiar Lula em qualquer praça é o PL, que tem mantido sua sustentação a Bolsonaro. Na quarta-feira (3) o Pros foi o primeiro a oficializar o apoio ao petista. A legenda tirou a candidatura própria de Pablo Marçal e entrou na chapa de PT/PSB. O tema, claro, ainda vai ter desdobramento porque Marçal vai à Justiça reclamar seu direito de ser candidato.

A iniciativa do Pros deve abrir uma porteira em efeito cascata, tanto que nomes relevantes para o atual governo, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL) e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, também dão tímidos passos de distanciamento do presidente, principalmente porque o palanque eleitoral de ambos está associado ao Nordeste. Nas últimas semanas a rejeição de Bolsonaro tem caído, mas o entendimento dos dirigentes das campanhas de parlamentares nordestinos é que não será o bastante para brigar com o ex-presidente Lula em uma região históricamente eleitora do PT. Segundo o Datafolha em 28 de junho, a intenção de votos em Lula no Nordeste chega a 59%, contra 24% do atual presidente. Com esses números em mãos, os diretórios do Progressistas têm deixado na gaveta os santinhos com a foto do candidato ao lado de Bolsonaro e tenta associar, ainda que sem uma orientação formal do partido, suas figuras à do ex-presidente Lula.

CÂMARA ARTICULA Dentro do Congresso Nacional, deputados já fazem as contas para mensurar qual aposta será mais certeira no pleito de outubro. (Crédito:Eliseupaesph)

JOGO DUPLO Mas nem isso é exatamente novo no Brasil. Carlos Eduardo Gomes, cientista político e professor da Universidade de Brasília, afirma que esse movimento pró-Lula também aconteceu em 2001, quando o Centrão (à época formado por quatro partidos) migrou para a campanha do petista. “Quem deu esse direcionamento foi Renan Calheiros, que sentiu a mudança do vento e ajustou a vela”.

Nesta eventual segunda fase de Lula, Renan também já quer deixar seu nome marcado, e tem feito encontros com membros do PT, se mostrando moderado, aberto e pronto para negociar. Indiretamente, todo o MDB se beneficia dessa aproximação, ainda que ambos os partidos tenham se distanciado desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em Brasília há um ditado conhecido que diz que se um dia as instalações do Congresso estiverem pegando fogo, os parlamentares só precisam olhar por qual janela Renan Calheiros saiu, porque embaixo dela haverá água. E, ao menos nesse momento, essa janela parece ser a do PT.