Antes de assumir a presidência do México, Enrique Peña Nieto se apresentava como um grande reformador, que, além de jovem e bonito, era capaz de fazer o PRI retornar ao poder mais transparente, mas longe disso, encerra seu mandato cercado por escândalos de corrupção e violações dos direitos humanos.

Apelidado por sua equipe de campanha como o “Luis Miguel” da política porque as mulheres o tietam abertamente em seus comícios como se fosse o cantor mexicano, o então jovem candidato – agora com 51 anos – prometia um novo Partido Revolucionário Institucional, cujos 71 anos de governo anteriores a 2000 foram manchadas pela corrupção e abusos.

Mas seis anos depois, Peña Nieto – cujos adversários sempre o pintaram como um produto da Rede Televisa por se casar com uma atriz de novelas – deixa o país com uma enfraquecida confiança pública.

Os primeiros 20 meses de sua gestão estiveram marcados pela aprovação de reforma de grande porte que passam por quase todos os âmbitos, do trabalhista ao fiscal.

Duas são emblemáticas: a energética, que abriu o setor para a iniciativa privada, e a educativa, através da qual todos os professoras do setor público são submetidos a exames, apesar dos contínuos protestos de docentes sindicalizados, que, em alguns casos, se tornaram violentas.

Também foi criado o Sistema Nacional Anticorrupção, com o qual, em teoria, haveria elementos para exigir uma transparência governamental maior, no entanto organizações civis denunciaram uma falta de vontade política para dar recursos e independência.

– Casa Branca, El Chapo –

Em meio a isso, foram muitos os episódios que marcaram o mandato de Peña Nieto.Um deles mais fresco na memória dos mexicanos é o chamado “Casa Branca”.

Remonta a 2014, quando uma investigação jornalística revelou que a primeira-dama Angélica Rivera, a atriz conhecida como “Gaviota”, comprou uma casa de sete milhões de dólares de um empresário ligado ao marido em um exclusivo bairro da capital.

“Esse foi um dos muitos escândalos que mostram que, se não for o próprio presidente, os que o cercam se caracterizam pelo tráfico de influências, pela entrega de contratos aos amigos, pela corrupção, em suma”, opina Sergio Aguayo, pesquisador do renomado Colégio de México.

O presidente também se envolveu em crítica pela grande quantidade de governadores de seu partido envolvidos em processos judiciais, sejam processados, sob suspeita ou foragidos, 11 no total.

Um deles é o ex-governador de Veracruz, Javier Duarte, preso por acusação de corrupção e desaparecimento forçado. Peña Nieto o presentava como um dos “novos políticos do PRI que fazia as coisas de forma diferente”.

A última fuga do lendário mafioso Joaquín “El Chapo” Guzmán, em 11 de julho de 2015, de uma prisão de segurança máxima por um túnel com pista adaptada para uma motocicleta, foi outro dos capítulos vergonhosos de sua presidência.

Apesar de ter sido recapturado e extraditado para os Estados Unidos, os mexicanos ainda debocham dessa fuga hollywoodiana.

– Ayotzinapa –

A segurança e a proteção dos direitos humanos fizeram parte das principais promessas de campanha de Peña Nieto, mas acabaram por cair por terra e, várias vezes, ele se viu contra a parede nesse território.

“O presidente foi um fracasso absoluto. Existe um raro consenso no México em torno de um fato, a política de Enrique Peña Nieto para controlar a insegurança foi um fracasso”, enfatiza Aguayo.

O ano passado fechou com a cifra recorde de 25.339 homicídios dolosos, a cifra mais alta desde que foram iniciados os registros em nível nacional, em 1997.

Em 26 de setembro de 2014, um grupo de 43 estudantes da escola para professores na área rural de Ayotzinapa, Guerrero, desapareceram depois de srem atacados por capangas e policiais corruptos, que os sequestraram e supostamente entregaram ao cartel Guerreros Unidos.

Segundo a investigação oficial, rejeitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e os pais dos estudante, esse cartel os teria assassinado e incinerado.

Em meio à guerra militarizada contra o os narcotraficantes, outro episódio marcou a administração Peña Nieto.

Depois de uma longa investigação, a Comiussão Nacional dos Direitos Humanos (entidade autônoma do Estado) concluiu que 15 de 22 mortos achados em 30 de junho de 2014 no centro do México foram executados extrajudicialmente por militares.

E, com essas passagens como pano de fundo, o atual presidente fez declarações algo escandalosas. Destaca-se a de agosto de 2014 sobre a corrupção,, que, a seu ver, é “um problema cultural”.

“Qualquer coisa que aconteça hoje é pela corrupção. Se houve um choque aqui, na esquina, foi a corrupção”, ironizou o presidente.

Dois em cada 10 mexicanos aprovam a gestão de Peña Nieto (21%), mas 69% não gostam de seu desempenho, de acordo com a última avaliação da Consultoria Mitofsky difundida em fevereiro.

Nas pesquisas sobre a eleição deste domingo, o candidato do PRI, José Antonio Meade, aparece em terceiro lugar, longe do líder, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador.