18/12/2019 - 14:30
A democrata Nancy Pelosi e o republicano Mitch McConnell, dois veteranos congressistas, travam um duelo difícil em suas respectivas casas do Congresso dos Estados Unidos para definir o destino do presidente Donald Trump.
Ambos são mestres do jogo político washingtoniano, que chegaram a posições-chave no Congresso por sua sagacidade política, “estômago” e determinação.
A presidente da Câmara de Representante é tranquila, dura e age bem sob pressão. É a líder dos democratas no Congresso, que guia seus correligionários por uma divisiva investigação de julgamento político.
Este ícone do poder feminino americano manteve seu grupo unido o suficiente para aprovar o impeachment nesta quarta-feira.
No extremo oposto do Capitólio, o líder da maioria do Senado se tornou o principal defensor de Trump.
“Não haverá nenhuma diferença entre a posição do presidente e a nossa”, frisou, esvaziando as especulações sobre possíveis deserções no campo republicano, em caso de julgamento político de Trump.
Durante anos, McConnell usou sua magia procedimental para podar os democratas e alavancar a agenda de seu partido, ou bloquear as prioridades de seus rivais.
Todos os sinais sugerem que ordenará a seus soldados do Partido Republicano que mantenham a linha no julgamento no Senado e ajudem Trump a evitar uma condenação que possa tirá-lo da Casa Branca.
“Não sou um jurado imparcial”, disse McConnell a jornalistas nesta terça.
– Duelo de titãs –
Pelosi, de 79 anos, elegeu-se pela primeira vez para o Congresso em 1987. Foi o calcanhar de Aquiles de Trump desde que ele chegou à Casa Branca e, sobretudo, desde que ela se tornou líder da Câmara, em janeiro passado.
McConnell, de 77, ingressou no Senado em 1984 e continua sendo uma força potente, empregando um cálculo político a sangue frio.
“McConnell é um mestre na arte de navegar no processo legislativo, e a forma como que está disposto a usar o procedimento legislativo para conquistar seus resultados é bastante notável”, disse à AFP a professora de Ciência Política Jennifer Lawless, da Universidade da Virgínia.
Segundo Jennifer, McConnell tem relativamente pouco em jogo, porque sua principal missão é manter a Casa Branca feliz.
“É quase impensável que 20 republicanos desertem”, completou, referindo-se à quantidade de republicanos no Senado, composto de 100 membros, dissidentes que seria necessária para condenar Trump no julgamento.
“É muito mais importante para Pelosi solidificar seu legado e fazer passar na Câmara”, disse Lawless sobre a acusação.
Durante muito tempo, a líder democrata se mostrou reticente a lançar a investigação, temendo uma reação negativa, depois da investigação de dois anos sobre a ingerência eleitoral da Rússia em 2016.
A investigação concluiu que Trump violou seu juramento à Constituição dos Estados Unidos, ao pressionar a Ucrânia a investigar um de seus principais rivais democratas para 2020, que deve prestar contas.
– Xadrez tridimensional –
Atraída pela política desde a infância, teve pai e um irmão prefeitos de sua cidade natal, Baltimore. Entrou para o Congresso para representar San Francisco.
Como uma moderada no bastião liberal da Califórnia, ela atribui seu próprio sucesso, em parte, à capacidade de “receber um golpe”.
Pelosi elevou seu status entre os democratas por se atrever a enfrentar o presidente.
E emprega uma certa “inteligência política” que a ajuda a controlar um grupo democrata historicamente diverso, completou Lawless.
Quando se trata do xadrez tridimensional de Washington, “acredito que Pelosi é a melhor”, declarou o senador democrata Sherrod Brown.
Durante a histórica votação desta quarta-feira, Pelosi se destacou por sua capacidade de “atrair” democratas eleitos em distritos de tendência republicana que eram céticos da acusação.
Mas a cruzada de Pelosi para acusar Trump poderá custar aos democratas as eleições presidenciais e legislativas em 2020?
Em 11 meses se saberá se seus instintos estavam certos.