SÃO PAULO (Reuters) – O Santos já havia conquistado títulos antes da contratação de Pelé, mas a chegada dele ao clube gerou uma longa e sensacional sequência de vitórias que, em pouco mais de uma década, transformou o que era então um clube médio brasileiro em um dos maiores nomes do futebol mundial.

Pelé chegou ao Santos em 1956, vestindo calça comprida pela primeira vez na vida, e acompanhado do pai e do olheiro que o descobriu.

A transformação foi rápida para ele e para seu novo clube.

O Santos já havia conquistado o Campeonato Paulista antes, mas com Pelé no time embarcou em uma sequência gloriosa de mais 10 títulos estaduais e seis campeonatos brasileiros.

O alvinegro praiano também conquistou duas Libertadores, em 1962 e 1963, e nos mesmos anos levou também a Copa Intercontinental, título que premiava o vencedor do duelo entre o melhor time da Europa e o melhor da América do Sul.

Nesses espetaculares 24 meses, o Santos disputou nove torneios e venceu oito deles, perdendo apenas o Campeonato Paulista de 1962 para o Palmeiras, já que sua agenda estava tão lotada que tiveram que jogar com os reservas em algumas partidas.

CIDADE PROVINCIANA

Antes da chegada de Pelé, o Santos era um clube mediano, improvável de competir com os maiores do Brasil, e muito menos vencer gigantes europeus como o Real Madrid, Benfica e Milan.

Vindo de uma cidade litorânea provinciana, o clube era ofuscado em São Paulo por times como Corinthians, Palmeiras, Portuguesa e São Paulo.

No Rio de Janeiro, outro grande pólo do futebol brasileiro, grandes times como o Botafogo, com Garrincha e Jairzinho ao seu lado, dominavam.

As cidades do Rio e de São Paulo tinham milhões de habitantes, enquanto Santos era uma pequena cidade de 265.000 habitantes, o que significava que o clube tinha menos torcedores e menos dinheiro.

Mas, com Pelé em campo, o Santos conseguiu superar todas as expectativas e adversidades.

Sua visibilidade no cenário internacional –auxiliada pelas três vitórias do Brasil em Copas do Mundo entre 1958 e 1970– fez com que times de todo o planeta estivessem dispostos a pagar muito dinheiro para vê-lo jogar.

Todos os anos, o Santos cruzava o mundo, jogando em Sheffield e Xangai, Barcelona e no Benin, e Pelé era sempre a atração principal. Se ele se machucasse ou não fosse escalado, a taxa paga por aparição era reduzida.

Muitas vezes, ele era forçado a jogar quando não estava totalmente apto, porque o dinheiro que recebiam era a única maneira de o clube sobreviver –e garantir que Pelé recebesse o que valia.

Pelé poderia ter jogado por qualquer um dos principais times europeus –Inter de Milão, Real Madrid e Paris St Germain estavam entre os que ofereceram fortunas por seu talento–, mas ele estava feliz no Santos, e as ligas brasileiras naquela época eram tão competitivas quanto as do outro lado do Atlântico.

Sua influência foi enorme, embora o público estrangeiro pouco o visse. Clubes de todo o mundo foram batizados de Santos em sua homenagem. Os bebês levaram seu nome. O Olympiakos, da Grécia, ficou tão orgulhoso de vencer o Santos que incluiu uma referência a isso no hino do clube. O Real Madrid desistiu de uma partida porque, insistem os historiadores santistas, teve medo de ser derrotado.

E quem viu Pelé jogar nunca se esqueceu.

“Fiquei imediatamente hipnotizado por esse garoto Pelé”, disse o diretor de cinema alemão Werner Herzog ao vê-lo em Munique em 1960.

“O Santos venceu por 9 x 1. Eles marcaram um após o outro, e o que eu vi era como se fosse magia, um garoto fazendo um gol atrás do outro e fazendo coisas dentro de campo que eu nunca pensei que seriam possíveis. Pura, mágica total. E isso ainda está comigo.”

(Reportagem de Andrew Downie)

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