Conhecido e respeitado, o ex-chefe de segurança do Twitter, Peiter Zatko, pode ser uma figura-chave na batalha legal entre a rede social e o magnata Elon Musk, mas terá que provar suas alegações contra a rede social.

Apelidado de Mudge, o cientista da computação de 51 anos deve responder nesta terça-feira (13) perguntas de uma comissão do Senado dos EUA sobre um relatório que entregou às autoridades. Nele, repreende o Twitter por ter ocultado falhas de seu sistema de segurança e mentir a respeito da luta contra as contas falsas.

Para Musk as alegações foram um presente que caiu dos céus, já que o dono da Tesla discute há meses a proporção de contas falsas nas redes sociais para justificar o abandono do projeto de compra do Twitter por 44 bilhões de dólares.

A intervenção de Zatko abriu uma “caixa de Pandora” para a empresa de São Francisco, estima Dan Ives, analista da Wedbush Securities. Até então, “Wall Street considerava o Twitter vencedor” do processo previsto para outubro perante um tribunal especializado.

Se a rede social vencer, o juiz poderá multar Musk em bilhões de dólares por danos e prejuízos, e até forçá-lo a honrar seu compromisso.

– Jesus –

“Se Mudge diz que o Twitter tem problemas de segurança virtual, o Twitter tem problemas sérios”, declarou Aaron Turner, diretor de tecnologia da Vectra, empresa californiana de segurança, que diz conhecê-lo desde 1980.

Filho de dois cientistas, Zatko cresceu no Alabama e na Pensilvânia, no meio de música e informática.

Em 1996, ele se juntou a um coletivo de hackers chamado L0pht, com quem prestou testemunho diante do Congresso dois anos mais tarde. “Foi a primeira vez que o governo americano citava ‘hackers’ em um contexto positivo”, tuitou o especialista em maio de 2019.

Posteriormente, ocupou diferentes cargos no site de busca Google, na empresa de serviços de pagamento online Stripe e, posteriormente, na Darpa, agência de buscas do Pentágono.

Jack Dorsey, fundador e ex-diretor do Twitter, o recrutou em julho de 2020 após uma enorme invasão de contas de celebridades e personalidades políticas, como Barack Obama, Elon Musk e Kim Kardashian.

Em janeiro de 2021, a equipe de transição de Joe Biden ofereceu o cargo de diretor de segurança na Casa Branca. Ele recusou e disse ainda ter trabalho para fazer no Twitter, segundo seus advogados.

Entretanto, foi demitido em janeiro de 2022, devido a uma “liderança ineficaz e mal desempenho”, afirmou o Twitter.

Seus advogados dizem que a informação é “falsa”. Em vez disso, contam que Mudge foi despedido após um confronto com a direção, que teria se recusado em admitir problemas de segurança.

Ao fazer suas revelações, “pôs sua carreira em risco devido sua preocupação pelos usuários do Twitter, o público e os acionistas”, confirmam os advogados.

– “Castelo de cartas” –

“Quem conhece Mudge na indústria sabe que, pelo seu histórico, suas intenções foram honráveis, apolíticas e benevolentes”, afirma Andrew Hay, diretor de operações da consultoria em segurança cibernética Lares Consulting.

No final de junho, o Twitter aceitou pagar uma indenização de sete milhões de dólares ao demitir Zatko.

Alguns dias depois, o engenheiro enviou seu relatório às autoridades, em que pontua diretamente as perguntas de Musk sobre contas dos usuários. Ele menciona declarações “enganosas” do CEO do Twitter, Parag Agrawal, e afirma que as ferramentas da rede social são “antiquadas” e as equipes “sobrecarregadas” e “ineficientes”.

Zatko também acusa “as graves e escandalosas falhas (de segurança), a ignorância deliberada e as ameaças à segurança nacional e à democracia”.

Segundo analistas, as acusações são prejudiciais, mas não necessariamente proibitivas.

“Seguem sem evidências de que o Twitter tenha falsificado os números”, destaca Jasmine Enberg, da Insider Intelligence. “Isso mostra uma potencial falta de interesse dos diretores do Twitter para lutar contra os bots”, acrescenta Enberg.

Os advogados de Musk vão “tentar demonstrar que o Twitter conscientemente tentou vender a ele um castelo de cartas”, comenta Adam Badawi, professor de direito na Universidade de Berkeley.

No entanto, segundo o professor, “essas vulnerabilidades teriam que ser muito, muito sérias” para a rede social obter sucesso.