O primeiro chamado é discreto. “Moço”, fala baixinho. Se a atenção não vem, repete mais alto. “Moço! Me dá uma ajuda, pelo amor de Deus?!”, diz o homem, a expressão aflita, os braços abertos como se estivesse perdido. Está no saguão do Terminal 2 de Cumbica, é perto do meio-dia. De camisa social, calça jeans e o cabelo curto, é aparentemente um passageiro. Empurra um carrinho com três malas – uma criança, não mais do que 4 anos, está sentada sobre elas. Na sua cola, uma mulher carrega outra menininha, ainda menor.

À reportagem, o homem confessa que se trata de encenação para conseguir dinheiro. O carrinho, as malas, a roupa em bom estado, tudo foi pensado para ser uma espécie de disfarce. Serve para que a família se misture ao público do aeroporto e ainda drible os vigias. “Ou então não me deixam circular”, diz. “E se eu falar que estou desempregado, ninguém me ajuda.”

Aos passageiros, conta que acabou de chegar de viagem e está sem dinheiro. “Estou tentando voltar para Campinas”, repete. Mesmo sem entrar em detalhes, convence muitos. “Por dia, dá para tirar uns R$ 200.”

“Você quer saber a real mesmo, né? Sou de Salvador, estou aqui em São Paulo faz quatro meses”, o homem começa. “Um pessoal da família me arrumou um emprego, mas o trabalho acabou. O aluguel é caro, fora cinco filhos e os netos. Aí, tem de pedir, né?”, justifica. “A verdade é essa. Só não dou meu nome por que, aí, complica pro meu lado. ‘É nóis’. Fica com Deus.”

Ambulantes

Um rapaz magricelo, de óculos de grau e cabelo repartido para o lado, aborda um homem que lê na área de desembarque internacional. “Boa tarde, estou arrecadando dinheiro para uma missão na África e tenho esse livro aqui”, diz, sacando um exemplar escondido em uma mochila. “É só dar quanto acha que vale e…” O homem interrompe, afirmando que está sem dinheiro. O rapaz rebate: “Pode ser no cartão”.

Depois, consegue vender um livro para a professora Ana Laura de Abreu, de 26 anos, em um restaurante no Terminal 3. “Ele foi simpático. Quando a abordagem é exagerada, incomoda. Neste caso, não.” A ela, contou que estuda Psicologia e precisa de dinheiro para o curso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.