Martinho Lutero está rindo à toa: a concorrência voltou a ser acusada de transações financeiras mal-explicadas. Na terça-feira 21, autoridades italianas congelaram € 23 milhões (US$ 31 milhões) em fundos de uma instituição financeira, o Credito Artigiano, por suspeita de lavagem de dinheiro e de evasão fiscal.  Seria um pecado venial, não fosse o Credito Artigiano vinculado ao Instituto para as Obras da Religião, também conhecido como Banco do Vaticano. Segundo o Il Sole 24 Ore, principal jornal econômico italiano, as autoridades consideraram suspeitas duas transferências de dinheiro realizadas pelo Artigiano. 

 

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Bento XVI: Sua Santidade poderá ter de penitenciar-se como João Paulo II 
e cobrir os prejuízos, o que vai provocar choro e ranger de dentes

 

Uma delas foi o envio de € 21 milhões para o escritório de Frankfurt do banco americano JP Morgan e outra foi a transferência de € 3 milhões à instituição financeira italiana Banca del Fucino. Segundo a procuradoria de controle financeiro do Banco de Itália, o banco central italiano, Ettore Gotti Tedeschi, presidente do Banco do Vaticano, e Paolo Cipriani, diretor-geral, pecaram por não fornecer as informações

exigidas pelos mecanismos contra a lavagem de dinheiro.

 

Em um editorial publicado na quinta-feira 23, L’Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano disse que os acusados não merecem que se lhes atire a primeira pedra. “A investigação foi provocada por um mal-entendido entre o Instituto e o banco que recebeu o dinheiro”, declarou o Vaticano, que assegurou que os executivos – e o banco – estão livres de pecado.

 

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Tedeschi: remessas burlaram as regras contra lavagem de dinheiro 

 

L’Osservatore Romano declarou também que o Instituto “não pode ser considerado um banco, pois administra os bens das instituições católicas em todo o mundo e, estando no Vaticano, não se sujeita aos mesmos controles que os bancos nacionais.” Não é a primeira vez que a Santa Sé se enrola com suas finanças. A venda indiscriminada das indulgências nos séculos XV e XVI foi a gota d’água que provocou a Reforma Protestante de Lutero. Nos anos 80 do século passado, o Banco Ambrosiano de Milão faliu após ter desviado US$ 1,3 bilhão dos depositantes por meio de empréstimos fraudulentos, muitos deles para empresas de fachada operadas pela Máfia italiana.

 

O Banco do Vaticano, então presidido pelo cardeal americano Paul Marcinkus, era um  dos maiores acionistas do Ambrosiano. Na época, o papa João Paulo II teve de pagar uma penitência salgada: Sua Santidade abençoou com sua assinatura um cheque de US$ 239 milhões para indenizar os credores do banco.  Só Deus sabe se Bento XVI terá de fazer uma penitência como a de João Paulo II, mas não há dúvida que pelos corredores do Vaticano já começou o choro e o ranger de dentes.