A Microsoft transformou o Brasil no laboratório de testes daquilo que pode ser a redenção da companhia em mercados de países emergentes, onde a pirataria é tão crescente quanto o uso de softwares livres semelhantes ao Linux. Desde o final de abril, vinte empregados da subsidiária brasileira e outros 30 engenheiros de software, baseados na sede da empresa, em Seattle, nos Estados Unidos, acompanham uma experiência que ocorre no interior de São Paulo. A rede de varejo popular Magazine Luiza está vendendo um computador com Windows que funciona à base de créditos, como os telefones celulares pré-pagos. Três mil clientes do Magazine foram selecionados e receberam uma carta com a oferta de venda dessas máquinas. Por uma pequena parcela de entrada, que pode ser dividida em até 24 vezes, eles podem levar para casa o PC e o primeiro cartão de créditos. Quando o tempo acaba, o consumidor precisa voltar à loja e comprar outro cartão para liberar o uso dos programas da máquina. O processo se repete o número de vezes necessário até o cliente pagar em créditos o valor restante do computador. A partir desse momento, o PC passa a ser usado sem restrições. ?É um teste mundial, sem similar e muito importante para a companhia porque mexe com a maneira como comercializamos o Windows?, afirma Alexandre Leite, gerente de marketing da Microsoft Brasil. É mais do que um teste. A Microsoft tenta encontrar estradas para responder à altura aos ataques do governo federal que acusa a companhia de impedir a expansão do mercado nacional de PCs em razão dos altos preços cobrados pelos programas. ?Nossa meta é atingir pessoas de renda mais baixa?, diz Leite.

A tentativa da Microsoft está sendo monitorada com extremo cuidado. Antes de lançar uma operação de venda em massa, a companhia quer entender os hábitos de compra e uso desse tipo de consumidor. No caso dos clientes do Magazine Luiza, eles são submetidos a entrevistas, analisadas no Brasil e nos EUA. O próprio vice-presidente mundial da Microsoft que cuida das operações Windows, Will Poole, se envolveu no projeto que está sendo executado em 15 lojas da rede varejista em São Paulo e Minas Gerais, e começou a ser desenhado há um ano e meio. O fabricante do PC é a própria Rede Luiza e dentro das máquinas, além do Windows, há mais alguns programas da Microsoft, como um editor de texto. Os compradores selecionados escolhem entre vários planos de pagamento que variam entre R$ 600 e R$ 1 100. Quem paga menos terá de desembolsar mais créditos para quitar a máquina. No final, o PC Pré-Pago pode sair por R$ 3 000. ?Nas primeiras semanas, sem muita propaganda, vendemos 500 computadores?, afirma Frederico Trajano, diretor da Rede Luiza. ?Acreditamos muito nesse modelo de negócio.? O teste do PC Pré-Pago não tem data para terminar e pode durar até o final do ano. Tanto a Microsoft quanto o Magazine Luiza são cuidadosos em avaliar os primeiros momentos da experiência. ?Vamos olhar os detalhes antes de expandir a iniciativa para outros lugares?, diz Alexandre Leite.

Aos poucos a Microsoft está saindo da linha de defesa que adotou desde a chegada do PT ao governo federal. Como a disseminação do uso de softwares livres é uma política pública bem clara, a empresa americana se tornou a vilã do momento. Desde o início do ano, a empresa tenta amenizar a imagem negativa. A primeira medida foi reduzir em até 30% o valor do Windows vendido para alguns fabricantes nacionais. Nessa versão, batizada de Starter Edition, o programa tem menos recursos, mas pode viabilizar a venda de máquinas mais baratas.

500 unidades Foi o número de PCs vendidos nas primeiras semanas do teste