Não se pode negar ao ministro da Economia a qualidade da persistência. Não colheu grandes resultados da luta e crença na implantação do liberalismo no País, embora jamais tenha desistido. Segue na cruzada. Perseverou em todas as bandeiras nesse sentido, pelo ajuste do Estado, rumo a uma estrutura pública mais enxuta. A Reforma Administrativa é o grande exemplo. Não saiu, a contragosto dele, por obra e interferência direta de um certo capitão, sempre insistindo em postergar o inadiável. Da mesma safra de revezes está a Reforma Tributária, também essa sabotada por injunções, entre idas e vindas. Guedes persevera e ainda corre atrás de uma saída. Propõe uma rearrumação fiscal simplificada, baseada em mudanças pontuais. Encontra um muro de resistência. Lá atrás teve de lavar as mãos e deixar a política de tarifas dos combustíveis a cargo de outra pasta, das Minas e Energia, porque assim quis o mandatário. Com a lambança do descontrole de preços, o “Posto Ipiranga” foi chamado de volta para dar um jeito, arrumar a casa. No plano trabalhista, embora tenha realmente chegado à sua mesa a ideia de uma redução na contribuição do FGTS, de 8% para 2%, afastou de pronto a alternativa, que não seria, decerto, bem recebida. Estava ciente. Ao contrário do que se imaginava, não foi ele quem propôs e tampouco quis fazer prosperar a alternativa. Mandou engavetar os estudos. O ministro, no amplo leque de desafios a que se propôs, vem pensando o ajuste econômico como um todo e virou uma espécie de “faz tudo” para resolver os pepinos que vão surgindo aqui e acolá no governo. Partiu para Davos na semana passada com a árdua missão de vender um Brasil melhor do que aparenta. Precisa e está correndo atrás de investidores que banquem a compra de estatais e topem entrar nos leilões de concessões. Nesse aspecto, a privatização da Eletrobras pontifica como uma espécie de troféu pelo esforço e empenho despendidos até aqui. Deve finalmente sair, mesmo debaixo de críticas, de queixas sobre valor subavaliado e das habituais resistências setoriais. É uma sinalização, e tanto, repassar a joia da coroa. A questão é: ao vender as ações, mesmo que a um preço razoável, terá condições de proteger os consumidores das altas sistemáticas na conta da energia elétrica? No momento, o governo tenta encontrar atalhos para baixar o custo da luz ao consumidor, que está prestes a explodir, forçando ainda mais para cima a inflação. Segurar o valor da luz em ano eleitoral mostra-se vital para o mandatário-candidato. E para onde será empurrado o valor bilionário desse eventual represamento? Existem ainda alguns impasses a superar para o negócio, como o do passivo a descoberto da usina da Eletrobras, que nos últimos três meses foi da ordem de R$ 2,6 bilhões. Mas nada demove o fato de que é essa venda realmente um estratégico e mais consistente passo dos últimos tempos rumo à dieta do pesado monstrengo estatal. A capitalização pode virar símbolo do sucesso da estratégia de Paulo Guedes, que não se abateu mesmo diante da muralha de opositores que se ergueu contra as suas ideias.

Carlos José Marques Diretor editorial