Para os investidores, março foi um mês de pânico, com uma acentuada queda nos preços das ações de praticamente todas as companhias e setores. Susto maior tomou quem tinha posições nas small caps, as empresas com valor de mercado entre R$ 300 milhões e R$ 2 bilhões. Para efeito de comparação, no terceiro mês do ano, quando foi decretado o isolamento social como forma de contenção à pandemia de coronavírus, o índice de small caps, o Smal11, que reúne cerca de 90 empresas da B3, caiu 37,5%. No mesmo período, o índice Bovespa (Ibovespa), que engloba as principais grandes empresas listadas, sofreu redução de 29,9%. O impacto foi tão forte que, apesar da recuperação iniciada em abril, ambos continuam negativos no acumulado do ano. Ao final do primeiro semestre, o Ibovespa apresentava variação negativa de 17,94% e o Smal11, de 22,35%.

A situação neste ano é bem diferente da ocorrida em 2019, quando os papéis das small caps tiveram valorização de 58,20%, contra 31,58% do Ibovespa. Foi um desempenho de fazer salivar os investidores – e que convenceu muitos a apostar nessas empresas. O momento de euforia deu vez a um 2020 turbulento. A dúvida agora é se vale a pena acreditar que a alta mais forte, em junho, do índice de small caps frente ao Ibovespa (ver tabela) é sustentável. Isso porque o cenário de incertezas ainda dificulta fazer previsões com base em números e informações técnicas. Especialistas consultados pela DINHEIRO explicam que as ações das menores empresas da Bolsa têm como característica subir mais do que as blue chips (ações de grandes corporações) em tempos de bonança e cair mais em períodos de crise. A explicação é a menor liquidez das small caps, com baixo volume de transações. Outra questão é que, por serem menores, elas costumam ter menos recursos disponíveis para superar um período longo de crise tal qual o mundo está atravessando. Nesse contexto, faria sentido para o investidor migrar posição para as companhias de maior porte, como Vale, Petrobras, Itaú Unibanco, Bradesco, JBS, Ambev e Magazine Luiza. “Mas isso não é exatamente verdade”, afirma Victor Santin, especialista da Aqua Investimentos. “Há small caps muito bem geridas e que podem ser boas opções de investimento de longo prazo.”

APORTES O analista-chefe da Toro Investimentos, Rafael Panonko, concorda e pondera que o momento pode ser o ideal para se investir nesses papeis. “Eu sempre aconselho o investidor a olhar o longo prazo. É preciso ter o hábito de fazer aportes, comprar um pouco cada mês”, diz. Outro conselho é procurar ativos de qualidade e não cair na tentação de investir em qualquer empresa só porque o preço da ação ficou muito baixo. “O que recomendamos numa situação como a atual é procurar empresas com preço interessante, claro, mas de qualidade, que sejam capazes de atravessar esse momento turbulento sem complicações financeiras”, diz Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.

Um exemplo de small cap considerada sólida é a Via Varejo. No dia 21 de fevereiro, pouco antes de estourar a crise, ela estava cotada a R$ 16,64. O seu preço mínimo foi no dia 3 de abril, quando chegou a R$ 3,96, pouco mais de 25% de antes da pandemia. Mas a retomada foi rápida. Dois meses e meio mais tarde, em 16 de junho, o papel já estava na casa dos R$ 16 – quatro vezes mais caro. Ou seja, depois de cair 76%, o papel teve valorização de 315%. Por isso, a Via Varejo tem a ação mais transacionada do ano. Quase diariamente, ela se coloca entre as cinco mais negociadas. Outro exemplo é a PetroRio, antes negociada em cerca de R$ 36. Com a pandemia, caiu para a casa dos R$ 10, em março, mas já voltou ao patamar pré-crise.

Analisar companhia por companhia para montar uma carteira de qualidade é um trabalho duro e que exige conhecimento. Uma sugestão é investir não nos papéis individualmente, mas no índice Smal11, que reúne dezenas de empresas de diferentes setores. É uma forma interessante de diversificação que possibilita ganhos expressivos. Em abril, o Smal11 teve valorização de 14,88%, em maio, 4,68% e, em junho, 12,10%. No mesmo período, o Ibovespa valorizou, respectivamente, 10,25%, 8,57% e 8,58%. “A vantagem de comprar índice diversificado é que isso reduz o risco de uma fotografia errada, caso o investidor escolha o papel a dedo”, diz Santin, da Aqua. Uma estratégia ainda mais adequada é investir não só no Smal11, como também no Bova11, que reflete os resultados do Ibovespa. A dica serve principalmente para quem não tem bala na agulha para montar uma carteira com muitos ativos. “Uma pessoa que começa com R$ 5 mil não consegue diversificar com dez papeis ou mais”, afirma Panonko, da Toro Investimentos. “Se ele dividir isso entre Small11 e Bova11, atinge essa desejada diversificação”, explica.