O novo governo de Israel enfrenta nesta terça-feira (15) o primeiro teste com uma passeata de ativistas de extrema-direita em Jerusalém Oriental, que ameaça provocar outra escalada com o movimento islamita Hamas, que governa a Faixa de Gaza.

Mesmo antes da marcha, prevista para as 17h30 (11h30 de Brasília), o enviado da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland, pediu “a todas as partes que atuem com responsabilidade e evitem provocações que possam levar a um novo ciclo de confrontos”.

A embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém pediu a seus funcionários que não compareçam à Cidade Antiga de Jerusalém, devido à “marcha das bandeiras”, organizada por movimentos nacionalistas e de extrema-direita israelenses, e às “possíveis contramanifestações”.

– “Yom Yerushalaim” –

A marcha celebra o “Yom Yerushalaim” – “Dia de Jerusalém” -, o aniversário para os israelenses da “reunificação” da Cidade Sagrada em 1967, segundo o calendário hebraico.

De acordo com o direito internacional, Israel ocupa ilegalmente a parte leste palestina da cidade, a qual também anexou.

Inicialmente, a manifestação estava prevista para 10 de maio, em meio a tensões pelos protestos no bairro de Sheikh Jarrah – onde famílias palestinas estão sob ameaça de despejo em benefício dos colonos judeus – e a confrontos entre palestinos e a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas. Situada em Jerusalém Oriental, trata-se do terceiro local mais sagrado do Islã.

A marcha foi cancelada depois que o movimento islamita Hamas, que governa a Faixa de Gaza, lançou vários foguetes na data contra o território israelense em solidariedade com os palestinos de Jerusalém Oriental.

Os foguetes e a resposta do Exército israelense provocaram uma guerra de 11 dias entre Hamas e Israel. Nela, morreram 260 palestinos na Faixa de Gaza, incluindo crianças, adolescentes e combatentes, e 13 pessoas em Israel, entre elas uma criança, um adolescente e um soldado.

Depois da guerra, e enquanto Egito e ONU multiplicam as negociações para tentar consolidar um frágil cessar-fogo, os organizadores da marcha anunciaram uma nova data, desta vez para quinta-feira passada (10), algo que o Hamas considerou uma provocação.

O movimento islamista advertiu Israel que adotaria represálias, caso a passeata se aproximasse do bairro muçulmano da Cidade Antiga e, em particular, da Esplanada das Mesquitas.

Por temer confrontos, o governo de Benjamin Netanyahu adiou a marcha para esta terça-feira.

– Advertências palestinas –

Neste período, porém, o Parlamento israelense acabou com os 12 anos de governo de Benjamin Netanyahu, ao aprovar uma coalizão de oito partidos: dois de esquerda, dois de centro, três de direita e um árabe. A coalizão é liderada pelo novo primeiro-ministro Naftali Bennett (direita radical) e por seu aliado, o centrista Yair Lapid.

Na segunda-feira à noite (14), o novo ministro da Segurança Interna, Omer Bar-Lev, decidiu manter a manifestação, apesar dos pedidos de suspensão por parte de deputados árabes israelenses e de líderes palestinos.

“O direito de manifestação é um direito de todos na democracia”, afirmou o gabinete do ministro em um comunicado para justificar a decisão.

“A polícia está preparada e faremos tudo o que estiver em nossas mãos para preservar o delicado tecido da convivência”, completou.

O trajeto da passeata foi estabelecido após negociações entre os organizadores e a polícia israelense, com a esperança de evitar confrontos com os palestinos, segundo as autoridades.

O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, advertiu para as “perigosas consequências” da marcha, que chamou de “provocação e agressão” contra os palestinos.