Aos 77 anos e há quase 30 na presidência de um partido político, o ex-deputado constituinte Roberto Freire, hoje sem mandato e dedicado exclusivamente ao comando do Cidadania (ex-PPS), afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que não existe “velha” ou “nova” política, mas, sim, “boa” ou “má” política.

Segundo ele, seu partido tem tentado fazer uma mudança no jeito como atua por meio da aproximação com movimentos de renovação política, como RenovaBR, Agora!, Acredito e Livres. “Existe hoje uma nova formação política que não vem dos partidos tradicionais. O partido que queira continuar existindo tem que se adaptar ao que acontece na sociedade”, disse o político.

Ainda segundo Freire, o Cidadania já teve conversas com Luciano Huck sobre uma eventual candidatura do apresentador de TV à Presidência em 2022 pelo seu partido.

O senhor está há quase três décadas na presidência de um partido. Como falar em renovação? Parece um paradoxo.

Sou responsável por liderar as mudanças no partido. Tem outros (partidos) que mudam todo ano e não renovam nada. Estou mostrando a você que quem está tendo diálogos com esses setores (movimentos de renovação) somos nós. Você pode até dizer que é um paradoxo, mas, na realidade, apesar de estar há tanto tempo, esse processo de mudança está sendo feito por nós. Eu estou comandando esse processo de mudança desde o PCB (de onde se originou o PPS, que virou Cidadania no ano passado). Não estou me acomodando, não.

A chamada “velha política” tem sido bastante criticada nos últimos tempos…

Velha política… O que tem que ser criticada é a má política. Não é a velha ou a nova, isso é um conceito equivocado. Tem que saber se é bom e acabou. A má política pode ser nova ou velha. Tem novos políticos que praticam a péssima política.

O senhor está sem mandato atualmente. Pretende ser candidato de novo?

Não estou pensando nisso, não. Depois de um rechaço desse (a derrota nas eleições de 2018), tem que analisar bem se tem que voltar ou se encerrou o tempo de atividade parlamentar. Não me aposentei da política. Das urnas, também não, mas não está no meu horizonte. Estou num projeto concreto com o Cidadania de tentar articular uma alternativa democrática para 2022 para disputar a Presidência.

O senhor tem falado do apresentador Luciano Huck. Acredita que ele será candidato pelo Cidadania em 2022?

Não sei nem se ele vai ser candidato. Isso está no horizonte dele. Mas ele não decidiu ainda (por qual partido poderia concorrer). Estamos muito distantes da eleição. Não tem que precipitar coisa alguma. Quem precipitou isso foi (o presidente) Jair Bolsonaro, falando de reeleição em menos de um ano de governo. Tem muito tempo ainda. Não tem que ter pressa.

Mas o convite ao apresentador está feito, certo?

Claro, há muito tempo.

Acha que Huck teria chance nesse cenário polarizado? Qual o diferencial dele?

Não tem cenário polarizado. Tem extremos.

Huck teria chances nesse cenário de “extremos”?

Bolsonaro se transformou em extremo depois que ele ganhou. Bolsonaro não foi eleito majoritariamente com voto da extrema-direita. Não foi isso. Teve voto de setores democráticos em Bolsonaro não porque era o grande candidato, mas por ser uma opção de segundo turno. Era um ou outro. Houve uma rejeição ao PT, e não um apoio majoritário ao Bolsonaro.

Mas e Huck? Acha que ele está demorando para se filiar e aparecer como um pré-candidato?

Aparecer mais do que ele aparece? Ele é uma celebridade. Tem três anos ainda (para a eleição). E temos a eleição de 2020. Precisamos ver São Paulo, Rio, Campinas, cidades. Temos que estar preocupados com as cidades. É uma etapa. Vou tentar firmar nosso projeto político olhando para nossas cidades.

Como estão as candidaturas do Cidadania nas capitais?

Queremos lançar pelo menos 15 candidatos em capitais. São pré-candidatos (os deputados federais) Marcelo Calero no Rio, Daniel Coelho no Recife (e os estaduais) João Vitor Xavier em Belo Horizonte e Any Ortiz em Porto Alegre.

Por que o Cidadania decidiu se abrir para os chamados movimentos cívicos, de renovação?

São movimentos espontâneos formados por jovens que se interessavam por política e começaram a debater. Como no Brasil, para participar do processo político, há determinação legal de que só se pode fazer isso através de partidos, nós passamos a olhar para essa movimentação e tentar com eles dialogar para integrá-los. Existe hoje uma nova formação política que não vem dos partidos tradicionais. O partido que queira continuar existindo tem que se adaptar ao que acontece na sociedade.

Muito se falou da fusão do partido. Existe essa possibilidade?

Não antes da eleição de 2020.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.