O cenário de polarização e de discussões políticas acirradas desde as eleições de 2018 não resultou em uma maior adesão a partidos. Pelo contrário. Em dois anos, as legendas perderam 1 milhão de filiados, na comparação entre março daquele ano e o mês passado. O número caiu de 16,6 milhões para 15,6 milhões de pessoas registradas a alguma das atuais 32 siglas existentes no País. Para especialistas, trata-se de mais um indício do hiato entre agremiações partidárias e o que de fato querem os eleitores.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 10,6% do total de eleitores brasileiros integram algum partido. Entre as siglas que mais perderam estão legendas tradicionais como MDB, PDT, PT e PSDB.

“Há um desencanto do eleitor, geral. Com os partidos mais tradicionais, esse desencanto é maior”, afirmou David Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB).

O total de eleitores dispostos a vestir a camisa de um partido político hoje é menor até mesmo do que há quatro anos, quando houve a última eleição municipal. Em 2016, os filiados eram 15,7 milhões. Na ocasião, também representavam uma proporção maior do total de eleitores – eram 10,8% dos 145,5 milhões de brasileiros aptos a votar.

Como as disputas para prefeito e vereador envolvem mais candidatos, pulverizados nas 5.570 cidades do País, a tendência seria haver mais procura pelas legendas do que nas eleições gerais – quando há disputa para os cargos de presidente, governador, senador e deputado. O prazo para alguém que pretende disputar um cargo eletivo neste ano se filiar se encerrou no dia 4 de abril.

De 2018 a 2020, quem mais perdeu filiados, em números absolutos, foi o MDB. Com 268,7 mil registros a menos, atualmente a sigla tem 2,1 milhões de representantes no País – o que a mantém no topo de ranking de maiores partidos.

Entre filiações e desfiliações, também ficaram com o saldo negativo alguns dos partidos que dominam espaços no Executivo e no Legislativo desde a redemocratização. É o caso de PT, PSDB, PP, PDT e PSB, por exemplo.

O PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro foi eleito em 2018, tem um saldo positivo no período, ainda resultado da avalanche gerada com a filiação do ex-deputado. Foram 116,7 mil membros a mais desde março de 2018.

Contudo, o número de pessoas registradas ao PSL vêm caindo desde que Bolsonaro lançou uma ofensiva para esvaziar o partido e criar um próprio, o Aliança pelo Brasil. Hoje, o partido tem 344,3 mil membros. Em outubro, antes de o presidente deixar a sigla, eram 349,2 mil.

Para Leandro Machado, cientista político e professor da FGV, o enxugamento no número de filiações é um fenômeno que ocorre desde ditadura militar, que deixou no País o sentimento de que a vida partidária era perigosa.

Além disso, as redes sociais trouxeram uma possibilidade do que Machado chama de “desintermediação” de informações e de poder. “As pessoas não querem mais meios, quer seja para informação, quer seja para atuação política”, afirmou o professor da FGV.

Advogado, cientista político e diretor executivo do Movimento Transparência Partidária, Marcelo Issa observa que, embora brasileiros não tenham uma forte cultura de filiação partidária, os cerca de 10% de eleitores filiados é um número considerável. Contudo, essa adesão não significa engajamento.

Um estudo elaborado em 2017 pelo movimento que dirige apontou que a cada 10 mil filiados havia 34 contribuições financeiras a uma sigla. “Há um potencial de autofinanciamento subaproveitado. Se fosse bem aproveitado, talvez não precisássemos dos volumes de financiamentos públicos que temos hoje”, disse Issa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.