Israel inicia, neste domingo (13), uma nova etapa de sua história com uma votação no Parlamento para ratificar uma “coalizão de mudança” formada por rivais ideológicos unidos para tirar Benjamin Netanyahu do poder.

A Knesset se reúne em sessão especial a partir das 16h00 (10h00 de Brasília) para que o centrista e líder da oposição Yair Lapid e o chefe da direita radical Naftali Bennett apresentem sua equipe, que será colocada em votação, entre 18h30 e 20h00.

Essa coalizão heterogênea (dois partidos de esquerda, dois de centro, três de direita e uma formação árabe) conseguiu a maioria necessária de 61 deputados em 120 parlamentares.

A menos que haja uma mudança de última hora, terá a aprovação dos deputados, que desta forma tirarão Netanyahu, chefe do governo por 12 anos interruptos.

“A manhã da mudança”, tuitou Lapid, cuja coalizão deve assumir formalmente as rédeas do poder na segunda-feira.

O primeiro-ministro, por sua vez, publicou na mesma rede social uma foto com o falecido rabino Menachem Mendel Schneerson, que lhe desejou “sucesso” em suas lutas.

Netanyahu, de 71 anos, está sendo julgado há um ano por suposta corrupção. Os protestos pedindo sua renúncia continuam, o último deles na noite de sábado.

Em frente à sua residência oficial em Jerusalém, os manifestantes não esperaram a votação no Parlamento para celebrar a “queda” do “rei Bibi”, o apelido de Netanyahu, que foi chefe de governo de 1996 a 1999 e sem interrupção desde 2009.

“A única coisa que Netanyahu queria era nos dividir, uma parte da sociedade contra a outra, mas amanhã estaremos unidos, direita, esquerda, judeus, árabes”, disse Ofir Robinsky, um manifestante.

– “Transição pacífica” –

A nova coalizão será liderada por Naftali Bennett, chefe do partido de direita Yamina, pelos primeiros dois anos, e depois por Yair Lapid por um período equivalente.

Nos últimos dias tem havido uma intensa campanha para dissuadir os deputados do Yamina de votar no novo governo.

Em qualquer caso, o partido Likud de Netanyahu se comprometeu com uma “transição pacífica de poder” após mais de dois anos de crise política com quatro eleições, cujos resultados não permitiram a formação de um governo ou levaram a uma união nacional que durou apenas alguns meses.

Depois das últimas legislativas em março, a oposição se uniu contra Netanyahu e surpreendeu ao conquistar o apoio do partido árabe israelense Raam, do islamista moderado Manssur Abbas.

“O governo trabalhará para toda a população, religiosa, laica, ultraortodoxa, árabe, sem exceção”, prometeu Bennett.

“A população merece um governo responsável e eficaz que coloque o bem do país em primeiro lugar em suas prioridades”, acrescentou Lapid, que deve se tornar ministro das Relações Exteriores.

A coalizão se comprometeu a realizar uma investigação sobre a debandada do Monte Merón (45 ortodoxos mortos), reduzir o “crime” nas cidades árabes e defender os direitos das pessoas LGBT.

Mas também visa fortalecer a presença israelense na área C da Cisjordânia, ou seja, sobre a qual Israel tem total controle militar e civil e que representa cerca de 60% desse território palestino ocupado desde 1967.

– Desafios –

Não faltarão desafios para o novo governo, como uma marcha planejada na terça-feira pela extrema direita israelense em Jerusalém Oriental, um setor palestino ocupado por Israel.

O movimento islâmico Hamas, no poder em Gaza, um enclave palestino sob bloqueio israelense, ameaçou retaliar se essa marcha acontecer perto da Esplanada das Mesquitas, em um contexto de extrema tensão sobre a colonização israelense em Jerusalém.

Em 10 de maio, o Hamas disparou uma salva de foguetes contra Israel em “solidariedade” aos palestinos feridos em confrontos com a polícia israelense em Jerusalém, levando a um conflito de 11 dias com o exército israelense.

O conflito terminou graças a um cessar-fogo promovido pelo Egito, mas as negociações para chegar a uma trégua sustentável falharam. Resolvê-lo será outro desafio do executivo.

O primeiro-ministro cessante ficará exposto, segundo a imprensa local, a uma rejeição dentro do Likud, porque alguns dos seus deputados também querem virar a página para a era Netanyahu no partido.

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