Os deputados britânicos aprovaram nesta quarta-feira (13), por estreita margem, uma moção rejeitando que o Reino Unido deixe a União Europeia “sem um acordo, em nenhuma circunstância”, mas não definiram como pretendem impedi-lo, a duas semanas para a data prevista para o divórcio.

Após o segundo dia consecutivo de debates acalorados na Câmara dos Comuns, os parlamentares rejeitaram por 312 votos a 308 a probabilidade de o Reino Unido sair da União Europeia em 29 de março sem um Tratado de Retirada, o que teria consequências econômicas catastróficas.

Demonstrando mais uma vez o caos que reina na política britânica, o resultado foi extremamente apertado não porque a metade da Câmara seja favorável a um Brexit sem acordo, mas porque se trata da emenda a uma moção apresentada previamente pela premiê, Theresa May.

“A Câmara tem que entender e aceitar que se não apoia um acordo nos próximos dias, e não quer apoiar um Brexit sem acordo em 29 de março, isto sugere que será necessária uma prorrogação muito mais longa” do que o previsto, disse May aos deputados.

A premiê propôs, então, realizar antes de 20 de março uma terceira votação parlamentar sobre o acordo do Brexit que negociou com a União Europeia e que os deputados já rejeitaram duas vezes.

Em uma moção que deverá ser votada pela Câmara dos Comuns nesta quinta-feira, o governo britânico afirma que se o Parlamento não aprovar o acordo quando chegar o dia do divórcio, previsto para 29 de março, pedirá à UE uma prorrogação da data da saída britânica do bloco.

Se desta vez o texto for aprovado, a premiê pedirá aos líderes europeus um curto adiamento da data do Brexit até 30 de junho para os preparativos necessários.

No entanto, May advertiu que se o Parlamento não aprovar um acordo com Bruxelas, a saída do Reino Unido do bloco pode ser adiada durante um longo período.

Este novo capítulo da novela em que se tornou o acordo do Brexit parece indicar que uma solução consensual está longe do fim.

Até o último minuto, May trabalhou com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, sobre o ponto mais conflituoso do texto, a “salvaguarda irlandesa”. Mas as garantias que obteve da UE não bastaram para acalmar os temores de muito deputados britânicos.

Sendo assim, cumprindo uma promessa feita em fevereiro, convocou esta nova votação um dia depois.

– Com ou sem acordo –

Pela segunda vez em dois meses, os deputados rejeitaram estrondosamente na terça-feira o acordo que a líder conservadora costurou arduamente com Bruxelas para cumprir o mandato do referendo de 2016, no qual 52% dos britânicos votaram a favor do Brexit.

Desta vez, May perdeu por uma diferença de 149 deputados. Em janeiro, a derrota tinha sido ainda mais humilhante: 230 votaram contra, incluindo mais de cem rebeldes de seu próprio Partido Conservador.

“Só há duas formas de sair da UE: com ou sem acordo. A UE está preparada para as duas”, reagiu nesta quarta-feira, em Bruxelas, uma porta-voz da Comissão Europeia.

“Para descartar um Brexit sem acordo, não basta votar contra, mas é preciso aceitar um acordo”, insistiu.

O Banco da Inglaterra advertiu há meses que um Brexit sem acordo, o cenário mais temido nos meios empresariais britânicos, mergulharia a Grã-Bretanha em uma grave crise econômica, com aumento do desemprego e da inflação, queda vertiginosa da libra e do preço da habitação e quase 10% de redução do PIB.

Nesse contexto, o Executivo reduziu nesta quarta-feira a 1,2% sua previsão de crescimento para 2019, que hasta agora era de 1,6%, ao mesmo tempo em que o ministro das Finanças, Philip Hammond, advertia que a economia britânica segue ameaçada pela “nuvem da incerteza” que paira sobre a saída britânica da UE.

É que, apesar do resultado da votação desta quarta-feira no Parlamento, um Brexit sem acordo continua sendo a opção por default, ou seja, que se a data decisiva chegar e não tiver sido aprovada uma solução alternativa, o Reino Unido pode ser involuntariamente engolido por ele.

Esta precisaria, no entanto, da aprovação por unanimidade dos líderes dos outros 27 países do bloco e estes já advertiram que só o considerariam se tiver um propósito claro. E não para simplesmente prorrogar um bloqueio que atribuem à política interna britânica e que tem gerado frustração crescente em Bruxelas.

“Se pedirem um prazo adicional, terão que nos explicar para que (…) Não pode ser para renegociar um acordo que negociamos durante muitos meses e o qual já dissemos que não é negociável”, advertiu nesta quarta-feira o presidente francês, Emmanuel Macron.

“A solução para o bloqueio atual está em Londres” e “a Europa deve continuar avançando”. “Não devemos perder tempo porque o mundo não espera”, concluiu.

Na opinião do influente negociador-chefe europeu, Michel Barnier, o Reino Unido deve dizer o que pretende em sua futura relação com a UE, “qual é sua linha clara (…), inclusive antes de uma decisão sobre uma eventual extensão”.

A chanceler alemã, Angela Merkel, por sua vez, insistiu durante coletiva de imprensa em Berlim em que o mais conveniente continua sendo “para o interesse comum conseguir uma saída (britânica) ordenada”.