A escalada de alta da inflação levou o Banco Central (BC) a aumentar novamente a Selic, taxa básica de juros. O Copom (Comitê de Política Econômica) do BC elevou, nesta quarta-feira (4), a Selic em 1 ponto percentual. A alta já era esperada pelo mercado financeiro, que recebeu de maneira positiva mais essa elevação da Selic, a quarta deste ano.

Desde agosto do ano passado, a taxa básica de juros estava em 2% ao ano, menor patamar histórico. O objetivo era estimular o crescimento econômico diante da crise financeira gerada pela pandemia da covid-19. No entanto, os aumentos seguidos dos preços colocou a autoridade monetária em alerta.

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De acordo com o último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (2) pelo BC, a previsão de inflação para este ano chegou a 6,79%. Para se ter uma ideia, há quatro semanas, o Focus previa inflação de 6,07% para 2021. O Focus considera ainda que a Selic deve fechar o ano em 7% contra 6,5% previsto há quatro semanas.

Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, explica que o mundo sofre com uma inflação transitória, porque é um problema porque pode emendar na inflação por demanda, crise hídrica que vai pesar na conta final dos consumidores e não tem jeito a não ser subir os juros.

Ele avalia que na próxima reunião deve ocorrer o mesmo aumento. “Vamos ficar de olho na ata. Devemos finalizar o ano em 7%.” Para Franchini, trabalhar com 5% ou 6% de juros não é algo tão absurdo. “É um ajuste de juros que não surpreende o mercado, mas a velocidade surpreende, sim, sair de 2% no início do ano para 7% em um curto espaço, mas a inflação nos faz acelerar isso. Agora temos que ficar de olho na ata para entender os próximos movimentos do Copom”, comenta.

“O aumento é uma forma de o Bacen tentar voltar a ancorar as expectativas inflacionárias de 2022 que continuam piorando e já furando a meta de 3,5%. No comunicado anterior esperávamos um aumento de o,75 ponto, mas o Bacen deixou aberto a porta para um maior contracionismo caso o cenário fiscal deteriorasse e obviamente este é o caso com a possibilidade de reescalonamento do pagamento dos precatórios e a melhora da relação dívida PIB (Produto Interno Bruto) muito mais por causa de um maior deflator implícito do PIB do que qualquer ajuste fiscal”, explica Roberto Dumas, economista e professor do Insper.

Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital, concorda que a persistência da inflação doméstica vem superando as projeções do mercado, levando a novas revisões para cima sobre as expectativas inflacionárias.

“A mediana das projeções para 2022, que vinha recuando marginalmente, voltou a subir. O IPCA-15, divulgado recentemente, foi preocupante. Esses resultados inflacionários mais salgados, com maior persistência da inflação doméstica, tornou mais clara a hipótese do Banco Central intensificar o ritmo de elevação da taxa básica Selic no curto prazo, a exemplo da decisão tomada hoje”, afirma.

Para ela, o Banco Central não só optou por elevar a Selic em 100 pontos-base, como, provavelmente, também deve sinalizar na ata um novo aumento para 22 de setembro. “Com essa alta na taxa de juros, é esperado que a Selic chegue a 7,5% até o final de 2021 e, olhando para 2022, esperamos que a taxa continue nesse patamar ao longo de todo ano.”

Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, considera que o aumento de 1 ponto percentual não deve gerar grandes repercussões porque já está precificado pelo mercado. “O que deve gerar maior movimentação nesta frente deve ser o teor do comunicado do Copom e existe expectativa que deve apontar uma nova alta na mesma magnitude em setembro e colocar em xeque o plano de voo de normalização ao nível neutro da Selic. Deve fechar o ano com uma Selic contracionista”, considera.